Ciência

Pinturas rupestres mais antigas do mundo estão desaparecendo na Indonésia

Monitorando e registrando as artes, cientistas buscam compreender o que está deteriorando as cavernas e ameaçando as pinturas
Imagem: Wikimedia Commons/ Reprodução

Era 2011 quando o arqueólogo Adam Brumm descobriu pinturas rupestres em Leang Jarie, a Caverna dos Dedos. O local faz parte de uma cadeia de montanhas e cavernas no sudoeste da península de Sulawesi, na Indonésia. 

Até então, os pesquisadores pensavam que os registros tinham menos de dez mil anos. No entanto, quando Brumm recolheu amostras do material e seu amigo, Maxime Aubert, analisou sua idade, descobriram que a pintura datava de mais de 40 mil anos.

“Sabíamos imediatamente que era muito, muito importante, porque desafiava a visão eurocêntrica das origens da arte rupestre”, disse Aubert à revista Nature. Para ver algumas imagens, clique aqui.

Segundo cientistas, entre figuras de porcos, búfalos e caçadores que se dividem em metade homem, metade animal, as pinturas contam mais sobre os mitos da população que ali vivia do que do dia a dia dessa comunidade.

No entanto, a história completa pode nunca ser conhecida. Isso porque as imagens estão desaparecendo, conforme as pedras descascam, perdem suas crostas e acabam virando de novo um mural de fundo branco.

O que está acontecendo

Há sinais de que a arte rupestre das cavernas de Maros-Pangkep vem se desintegrando há centenas ou mesmo milhares de anos. De modo geral, as pinturas são feitas sobre a crosta exterior das rochas, que se forma quando a água atravesse a parede e traz consigo carbonato de cálcio, além de outros minerais.

Isso endurece e sela o pigmento usado nas artes. Contudo, a superfície está se desprendendo do calcário que está por baixo, em um processo chamado esfoliação. E, quando a crosta se quebra e cai, as pinturas se perdem.

Arqueólogos têm especulado o motivo dessa deterioração – e eles podem ser muitos. Entre eles, estão três motivos principais. O primeiro é a presença de pessoas nas cavernas, que alteram o microclima das grutas por meio da respiração. 

O segundo é a presença de mineradoras na região, que acabam poluindo as cavernas de poeira e causando vibrações inadequadas no calcário. Por fim, há também a suspeita da ação das mudanças climáticas.

Pesquisadores observaram amostras das rochas do local e descobriram pequenos cristais de sal que se formaram atrás da crosta endurecida. Eles têm a capacidade de crescer e encolher com as mudanças na umidade, expandindo até três vezes o seu tamanho quando molhados.

Dessa forma, ao crescerem, podem forçar a crosta a se desprender do calcário. De acordo com os cientistas, as mudanças climáticas e alterações na utilização do solo estão acelerando esse fenômeno.

As mineradoras

Para além desses problemas, há também outra grande influência nas cavernas indonésias. A região é explorada por diversas mineradoras, que buscam extrair o calcário ali presente. A Semen Tonasa é uma dessas empresas.

Bulu’ Sipong 4, uma das cavernas com pinturas, está localizada a apenas 2 quilômetros da fábrica de cimento e a menos de 3 quilômetros do local de onde o calcário é recolhido para processamento. Ali, diversos caminhões passam levantando poeira diariamente.

De acordo com pesquisadores, essa atividade com certeza prejudica a conservação das cavernas da região e, consequentemente, de sua arte rupestre. No entanto, há poucos dados de monitoramento das pinturas para afirmar o que exatamente está acontecendo.

Por isso, Rustan Lebe, arqueólogo do Gabinete de Preservação Cultural, uma agência governamental indonésia em Makassar, tem documentado sistematicamente as cavernas espalhadas pelas regências de Maros e Pangkep desde 2016. 

Até agora, o banco de dados registra atualmente 654 cavernas, das quais 65% têm arte rupestre. E, segundo o pesquisador, ele e sua equipe exploraram menos da metade das montanhas.

A busca para compreender os riscos para as cavernas já  forjou alianças improváveis ​​entre arqueólogos do governo local, cientistas internacionais, executivos de empresas mineradoras e  até investidores da Noruega. 

Agora, todos estão tentando impedir os danos às obras de arte mais antigas do mundo.

Bárbara Giovani

Bárbara Giovani

Jornalista de ciência que também ama música e cinema. Já publicou na Agência Bori e participa do podcast Prato de Ciência.

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