Afobação por crescimento da Uber no Brasil fez pelo menos 16 vítimas fatais

Devido à "obsessão" por crescimento, Uber acabou negligenciando a segurança de motoristas no Brasil com políticas que facilitavam a aplicação de golpes.
Logotipo da Uber
AP

Como quase todas empresas do Vale do Silício, a expansão da Uber não foi nada fácil. Durante a jornada, a empresa passou por diferentes situações: teve de enfrentar taxistas, reguladores, além de incidentes de segurança envolvendo motoristas e passageiros. Uma nova reportagem do New York Times conta um pouco como este último tema foi negligenciado no Brasil, com consequências trágicas no mercado local.

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No caso, a reportagem, adaptada do livro “Super Pumped: The Battle for Uber” (apenas em inglês), relata pontos cruciais da trajetória conturbada da Uber. Entre os incidentes, o texto cita a presença da empresa no Brasil, que acabou resultando em mortes devido à negligência da companhia em cuidar da segurança de motoristas em sua busca desesperada por um crescimento rápido. Mais abaixo, você poderá ler o posicionamento que a Uber enviou ao Gizmodo Brasil quando questionada sobre a reportagem do jornal norte-americano.

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Um caso marcante foi o assassinato de Osvaldo Luis Modolo Filho, motorista de 52 anos. Um casal utilizou um nome falso no aplicativo para solicitar uma corrida e, após embarcarem, eles esfaquearam o motorista com facas de cozinha, deixaram a vítima sangrando na rua, e levaram o carro. Segundo o New York Times, pelo menos 16 motoristas foram assassinados antes de a Uber decidir finalmente aprimorar as políticas de verificação de identidade e segurança no aplicativo. Na época, a empresa costumava argumentar que os incidentes eram resultado de um problema de segurança pública, e não necessariamente da plataforma.

Conforme aponta o NYT, sendo a Uber uma startup típica de Vale do Silício, seu mantra era “crescer, crescer e crescer”. Mesmo que isso significasse pegar alguns atalhos controversos. No projeto de expansão na América Latina, cidades como São Paulo e Rio de Janeiro eram extremamente promissoras. Portanto, a Uber se apressou para colocar o maior número possível de motoristas e passageiros nas ruas, facilitando o processo de cadastramento na plataforma. Os únicos dados solicitados eram e-mail e número de telefone, que poderiam ser facilmente falsificados.

Em 2016, a Uber passou a permitir o pagamento em dinheiro, o que foi uma combinação infeliz para os motoristas: passageiros não precisavam de um cartão de crédito para se registrar na plataforma e agora havia a possibilidade de eles terminarem o dia com uma grande quantia de dinheiro em mãos, tornando-os alvo de assaltos. De fato, segundo dados solicitados pela Reuters à Secretaria de Segurança do Estado de São Paulo, o número de roubos envolvendo motoristas de Uber aumentou de 13 por mês nos sete primeiros meses de 2016 para uma média de 141 até o fim do mesmo ano.

Taxa de segurança para aumentar margens

Em 2014, a Uber já havia começado a cobrar uma “taxa de segurança” de US$ 1, o que a empresa justificou como sendo necessário para financiar processos como “checagem de histórico de motoristas, verificação regular dos veículos, educar motoristas sobre segurança, desenvolvimento de recursos de segurança no app, e seguro”.

Segundo a Bloomberg, a taxa teria subido para US$ 2,50 em algumas áreas. No entanto, o NYT afirma que nunca foi provado que os quase US$ 500 milhões coletados com a taxa foram de fato utilizados para investir nos quesitos mencionados acima. Um ex-funcionário da Uber afirmou ao jornal que “nós aumentamos nossas margens afirmando que nossas corridas eram mais seguras”.

Valor de mercado

A Uber abriu seu capital há pouco tempo, e a companhia não está em seus melhores dias. Após anunciar um prejuízo recorde de US$ 5,2 bilhões no último trimestre, a companhia virou até alvo de piada em meio ao seu desespero em cortar custos recorrendo às medidas mais inesperadas possíveis, como substituir balões de hélio por adesivos nas comemorações de aniversário de empresa dos funcionários. Apesar de não parecer como algo prioritário, isso representaria uma economia de mais de US$ 200 milhões para a companhia, o que mostra a habilidade da Uber em jogar dinheiro fora.

Alguns investidores veem a  Uber como uma “espécie de Amazon” do transporte público. A alusão à gigante do varejo tem relação com o fato de a Amazon ter demorado a ser lucrativa, e atualmente a companhia de Jeff Bezos é uma das maiores do mundo. A questão é que a varejista descobriu distintas fontes de receita, algo que a Uber, de alguma forma está fazendo, com serviços como o UberEats e pesquisa em carros autônomos. Resta saber se daqui a algum tempo a Uber terá sucesso semelhante, a ponto de dizermos que tal empresa é a “Uber de determinado segmento”.

Resposta da Uber

Em nota ao Gizmodo Brasil, a Uber afirmou que tem investido constantemente em segurança e que isso foi reforçado com a chegada do novo CEO, Dara Khosrowshahi.

Entre os esforços citados pela empresa, incluem: um Centro de Desenvolvimento Tecnológico na América Latina, com foco em soluções de segurança; recurso de machine learning para boquear viagens consideradas mais arriscadas; ferramenta que reúne recursos de segurança para motoristas (com botão para ligar para a polícia, e compartilhar localização, trajeto e horário de chegada em tempo real com outras pessoas), além de uma parceria com a Serasa Experian para validar as informações de identificação dos passageiros que quiserem pagar em dinheiro.

A empresa ainda acrescentou que os motoristas podem cancelar as viagens sempre que não se sentirem seguros e que os números de telefone tanto do motorista como do passageiro são mantidos em sigilo. As mensagens enviadas pelo app que possam ser ofensivas ou ameacem a integridade de uma pessoa entram automaticamente em um processo de desativação permanente da conta.

Além de colaborar com as autoridades em investigações, a Uber diz que oferece um seguro aos motoristas com cobertura de até R$ 100 mil em caso de acidentes pessoais que ocorram durante a viagem, e um reembolso de até R$ 15 mil em despesas médicas.

[The New York Times]

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