Os gatos têm um paladar único. Apesar de não sentirem o sabor do açúcar e terem menos receptores para o amargo que os humanos, os bichos parecem ter gosto apurado para o quinto elemento essencial da cozinha: o umami.
Umami é aquele gosto extremamente saboroso dos alimentos. Em geral, ele vem em compostos naturalmente presentes tanto nas plantas como nas carnes, como o glutamato, o inosinato, o guanilato e o ácido aspártico.
Em humanos e em muitos outros animais, dois genes – Tas1r1 e Tas1r3 – permitem sentir o umami dos alimentos. Eles codificam proteínas que se unem nas papilas gustativas para formar um receptor que detecta o sabor especial.
Trabalhos anteriores haviam mostrado que os gatos expressam o gene Tas1r3 em suas papilas gustativas. No entanto, ainda não se sabia ao certo se eles também têm o outro gene que, junto com este, permite sentir o umami.
Agora, um estudo publicado na revista Chemical Senses relata que sim.
Entenda a pesquisa
Os pesquisadores fizeram uma biópsia da língua de um gato macho que havia sido sacrificado por problemas de saúde. Como resultado, a sequência genética revelou que suas papilas gustativas expressavam os dois tipos de genes.
No entanto, quando os cientistas compararam as sequências de proteínas codificadas por esses genes com as dos humanos, encontraram uma diferença grande. Duas posições críticas tinham mutações nos gatos.
São elas que permitem que o receptor humano se ligue ao ácido glutâmico e aspártico, considerados os principais aminoácidos que ativam o gosto umami nas pessoas. Dessa forma, os pesquisadores voltaram a pensar que os felinos talvez não sentissem o umami.
Para verificar, eles reproduziram o receptor de umami de gato e o colocaram em contato com uma variedade de aminoácidos e nucleotídeos. As células responderam ao umami e revelaram outra característica inédita.
Nas pessoas, geralmente os aminoácidos se ligam primeiro aos receptores e os nucleotídeos amplificam a resposta. Mas nos gatos, aconteceu exatamente o oposto. Os nucleotídeos ativaram o receptor, e os aminoácidos o impulsionaram o sabor ainda mais.
Por fim, o estudo testou a descoberta na prática. Pesquisadores deram a 25 gatos duas tigelas de água. Uma vinha com várias combinações de aminoácidos e nucleotídeos e outra apenas com água.
O experimento também permitiu identificar que os gatos mostraram uma forte preferência por tigelas que continham moléculas encontradas em alimentos ricos em umami, sugerindo que este sabor – acima de todos os outros – é o principal motivador para os gatos.
E o que isso tem a ver com o atum?
Entre as moléculas de umami, os felinos tinham uma preferência particular por aquelas contendo histidina e monofosfato de inosina. Estes compostos são encontrados em níveis especialmente altos no atum.
Segundo os autores do estudo, este é apenas um ponto de partida e muito ainda precisa ser pesquisado para compreender mais sobre a vida dos gatos.
Enquanto isso, o trabalho pode ajudar as empresas de alimentos para animais de estimação. Com as descobertas, é possível desenvolver dietas mais saudáveis e medicamentos mais palatáveis para gatos.