Desde que assumiu o cargo de CEO do Twitter, em outubro do ano passado, o bilionário Elon Musk adotou uma série de medidas consideradas (no mínimo) controversas. Entre as mais polêmicas delas, está a da mudança na política de distribuição de selos de verificação de perfil.
Agora, quem quiser ter o check azul em sua conta, precisa desembolar a quantia de R$ 42 mensais, através do Twitter Blue. A única exigência é que o usuário tenha um celular verificado.
Ao longo de sua história, o Twitter começou a ganhar notoriedade quando passou a contar com perfis de personalidades, jornalistas e pessoas famosas. Isso permitia à qualquer pessoa interagir diretamente com suas celebridades favoritas, algo que atraiu uma legião de usuários para a rede social.
Porém, para evitar a proliferação de perfis fakes se passando por pessoas públicas, a plataforma criou em 2009 o sistema de verificação de usuários. Esse selo de procedência legitimou a seriedade da plataforma, ao ponto de empresas e políticos usarem o Twitter para fazer seus anúncios públicos.
Um caso emblemático é o de Donald Trump, que usava a rede social para fazer declarações oficiais enquanto era presidente dos EUA. Contudo, sem o selo de verificação, qualquer usuário pode criar um perfil falso de alguma figura ou entidade pública para espalhar declarações enganosas, fake news ou mesmo praticar golpes – reduzindo perigosamente a segurança da plataforma.
Apesar da reação negativa, Musk determinou a remoção do selo gratuito de todas as contas verificadas no Twitter, ao longo do último mês de abril. Na cabeça do CEO da empresa, ninguém deve ser verificado a menos que esteja pagando pelo Twitter Blue. A medida tinha o objetivo de aumentar as receitas da rede social. Porém, obviamente, essa estratégia não funcionou.
Na verdade, ela acabou gerando uma série de problemas, o que levou a várias notícias bizarras. É o caso, por exemplo, da conta do governo da cidade de Nova York tendo que provar que seu perfil era autêntico, depois do surgimento de uma conta falsa que dizia ser o perfil oficial da prefeitura local.
Enquanto Musk estava ocupado explodindo o foguete mais poderoso do mundo, o Twitter retrocedeu e começou a devolver de forma aleatória o selo gratuito para contas com mais de 1 milhão de seguidores.
O curioso é que algumas celebridades que já morreram receberam de volta o selo, como é o caso de Marília Mendonça e Michael Jackson. Além disso, as celebridades que recuperaram o statuts, precisaram esclarecer aos seus seguidores que não estavam pagando por aquilo.
Também há a notícia do Twitter dando o selo de verificação para uma conta falsa da Disney.
Além disso, a plataforma tem sido acusada de ser desonesta com aqueles que pagam para usar o Twitter. Por exemplo, a rede social afirma que o jornalista norte-americano Jamal Khashoggi é um assinante Blue. A dúvida é: como o número de telefone dele foi verificado, uma vez que o jornalista morreu assassinado em 2020?
Para piorar a situação, a plataforma também tentou rotular – de forma destrambelhada – grandes grupos jornalísticos independentes, como a britânica BBC, como sendo uma entidade “financiada pelo governo”. Na prática, a plataforma parece não entender a diferença entre a BBC e uma mídia estatal mantida pelos governos da Rússia e China.
Inclusive, Musk já chegou a acusar um dos principais jornais do mundo, o New York Times, como “fake”, quando ele mesmo estava espalhando desinformação no Twitter.
Esse vai e vem do selo de verificação também pode acabar gerando ações judiciais contra a empresa. Isso inclui desde celebridades que podem argumentar que suas reputações foram prejudicadas pela nova política do selo ou mesmo órgãos reguladores internacionais vendo a assinatura do Twitter Blue como uma forma desleal de enganar e manipular os usuários.
Para a surpresa de quase ninguém, os negócios do Twitter não vão bem. A empresa já perdeu metade do seu valor de mercado, teve uma substancial fuga de anunciantes, além de passar por uma queda de audiência. Já o plano Twitter Blue está gerando menos de 1% de sua receita anual almejada.
Em dezembro, Musk afirmou que pretendia deixar o cargo de CEO do Twitter em breve. Porém, ele mesmo reconheceu que vai ser difícil encontrar alguém “tolo o suficiente” para a função.