Pré-iPhone 13: a (breve) história do cinema filmado com smartphones
Com o novo iPhone 13, qualquer pessoa vai poder fazer vídeos com qualidade de cinema. Bom, pelo menos é o que diz a Apple. Na última conferência que apresentou a nova versão do smartphone para o mundo, a companhia da maçã introduziu a função “modo cinematográfico”. Como diz o nome, a ideia é que ela confirme o iPhone como uma ferramenta para a indústria de cinema — algo que já existe e tende a se tornar ainda mais comum nos próximos anos.
De acordo com a Apple, o novo “modo cinematográfico” vai permitir que usuários explorem ao máximo as câmeras potentes do iPhone 13 — que, como quem acompanha o Gizmodo viu por aqui, são o maior destaque do novo iPhone.
A função que mais chamou a atenção foi a mudança de foco inteligente. Ela permite que o iPhone 13 detecte quando alguém entra em cena e altere o foco das lentes. A câmera também sabe dizer quando olhar da pessoa que está sendo filmada muda — e, automaticamente, passa a seguir a direção em que o seu olhar aponta. É uma técnica bastante usada no cinema para dar profundidade às filmagens, chamando a atenção de quem assiste a outros detalhes da cena.
A confiança nas câmeras do iPhone 13 é tamanha que a Apple convidou uma cineasta para gravar um curta que mostra o potencial cinematográfico delas. O nome escolhido foi ninguém menos que Kathryn Bigelow, primeira mulher a ganhar um Oscar de melhor direção (com Guerra ao Terror, de 2008). A seguir, você pode assistir a Whodunnit, que tem pouco mais de 1 minuto de duração e abusa das transições de foco.
https://www.youtube.com/watch?v=8Tl1RL8MRCA
Ainda que a Apple esteja se jogando de cabeça na ideia só agora, a indústria do cinema já acumula produções de destaque filmadas apenas com smartphones.
Primeiros títulos
O título de “primeiro longa-metragem filmado inteiramente no celular”, aliás, costuma ser atribuído ao bizarro SMS Sugar Man, lançado ainda em 2006. A produção do filme foi feita antes mesmo do surgimento do iPhone — e de outros smartphones que viraram sucesso de público. Quem serviu de câmera, no caso, foram oito aparelhos Sony Ericsson W900i, modelo muito popular no Brasil por contar com a função infravermelho, além de um design descolado com tons de laranja metálico.
É de 2007, no entanto, o primeiro filme feito com smartphones a de fato entrar para o mainstream. A produção Why Didn’t Anyone Tell Me It Would Be This Bad In Afghanistan, de Cyrus Frisch, é um filme mudo feito com uma câmera de celular de 3.2 megapixels, e foi premiado no Festival Internacional de Cinema de Roterdã (IFFR).
A estreia do iPhone nas telonas só aconteceria em 2011, com o sul-coreano Night Fishing. Mas o celular não deu conta do recado sozinho: o diretor acoplou uma lente 35 mm na câmera para dar uma pegada de cinema à produção.
De lá para cá, uma série de outras produções feitas inteiramente com smartphones ganharam destaque. Aí vai algumas delas.
High Flying Bird (2019)
Filmado em poucas semanas pelas lentes de um iPhone 8 s, o drama tem direção do renomado Steven Soderbergh. André Holland (que aparece no premiado Moonlight), vive um agente esportivo que se vê no centro de uma greve de jogadores O longa está disponível na Netflix.
Unsane (2018)
Outro da lista que é dirigido por Steven Soderbergh — e filmado, dessa vez, com um iPhone 7 plus. O enredo segue a linha do terror psicológico: uma mulher internada em uma clínica psiquiátrica tem a sensação de que está constantemente sendo perseguida. No vídeo abaixo, você pode ver cenas curiosas do making of — e de toda a logística por trás da filmagem com um celular.
Tangerine (2015)
Dirigida por Sean Baker e filmada do início ao fim com apenas três iPhone 5S, a produção custou cerca de US$ 100 mil. A história acompanha uma prostituta transgênero que descobre que está sendo traída pelo namorado.
O futuro do cinema?
Com a popularização das câmeras de celular — e com suas configurações ficando cada vez mais próximas das câmeras profissionais — a tendência é que um número cada vez maior de produções filmadas dessa maneira comece a ter destaque.
Já existe até um prêmio dedicado a filmes da categoria. O London International Smartphone Film Festival, que teve sua edição de estreia em 2021, é a primeira premiação de destaque em que pelo menos 50% de cada filme tenha sido produzido com um smartphone.
A organização do festival é feita pelos cineastas Adam Gee e Victoria Mapplebeck. Mapplebeck é autora de Missed Call, curta que é o primeiro filme da história feito em um smartphone (no caso, iPhone X) a ganhar o prêmio BAFTA (maior premiação do cinema britânico), em 2019.
“Você fica invisível quando está filmando com um smartphone”, disse, em entrevista à revista The Economist. “Você pode parecer um amador e filmar como um profissional”.
Segundo Mapplebeck, a tendência é que cada vez mais produções grandes acabem incorporando cenas feitas com celulares. “As pessoas vão usar os smartphones como uma lente qualquer. Então, temos o melhor dos dois mundos: cenas tradicionais maravilhosas, que demoraram cinco horas para serem feitas, e filmagens fluidas, espontâneas, feitas com um telefone”.
Foi o caso, por exemplo, do documentário Searching For Sugar Man, premiado no Oscar de 2012. O longa, que conta a história de Rodriguez, um rock star dos anos 70, teve partes filmadas com smartphones. Vale conferir.