[Review] LG Velvet: bonito, competente e sem firulas
Você pode acusar a LG de tudo, menos de ser monótona. Ela já lançou smartphones com duas telas, com comando por gestos, com módulos para trocar, com formato de “T”. Nem sempre ela acerta, e o mercado costuma ser bastante cruel com os erros — afinal, não é nada fácil competir com Apple e Samsung.
O Velvet, porém, parece tomar outro rumo. Anunciado como produto que inauguraria uma nova era nos smartphones da marca, ele deixa de lado esses recursos inusitados para se concentrar em basicamente dois quesitos: desempenho e design.
Eu usei o Velvet ao longo de seis semanas e conto como ele se sai.
LG Velvet
O que é?
O novo topo de linha da LG, mas nem tanto topo de linha assim
Preço
No varejo, por volta de R$ 3.000
Gostei
Muito bonito; Snapdragon 845 ainda garante ótimo desempenho; bateria dura bastante
Não gostei
Escorregadio; software com bugs
Design
A primeira reação que tive ao tirar o Velvet da caixa foi: “rapaz, mas é bonito, hein?”
As imagens de divulgação que tinham aparecido até então mostravam um aparelho com design interessante, mas pessoalmente o acabamento se destaca, principalmente pelo efeito de iridescência (nome chique para dizer que ele forma as cores do arco-íris).
A traseira, aliás, é quase toda lisa, exceto por um pequeno relevo em uma das três câmeras. O leitor de digitais não fica na parte de trás, mas sim sob a tela. O material usado até que não pega muitas marcas de dedo.
Por falar em tela, ela tem bordas mínimas e se curva nas laterais. É bonito e ajuda no gesto de voltar do Android 10, aquela passada de polegar do ladinho do display, indo para dentro. Por outro lado, acaba dando uma distorcida em imagens, vídeos e linhas de texto.
Para constar, o Velvet tem uma porta USB-C e uma entrada para fone na parte de baixo, uma bandeja com dois espaços (um para nanoSIM, outro para nanoSIM ou microSD) na parte de cima, botão de liga/desliga na direita, botões de volume e Google Assistente na esquerda.
Toda essa beleza, porém, acaba atrapalhando na hora de usar o aparelho. O acabamento é um pouco escorregadio, e dá medo de deixá-lo escapar da mão. Se você estiver usando uma calça com bolsos largos e muito abertos, tem que tomar cuidado para não deixar cair.
Além disso, a tela do Velvet é bem esticada na vertical, com proporção 20,5:9. Eu já usei aparelhos com proporção 21:9, como era o caso do Motorola One Vision, mas como o Velvet é bem maior e tem 6,8 polegadas na diagonal, acaba ficando um pouco difícil segurar firme e alcançar o topo da tela com o polegar. A LG colocou recursos de software para ajudar nisso, mas eles não funcionam tão bem — falo mais adiante disso.
Eu acabei preferindo colocar a capinha de silicone que vem na caixa para diminuir o risco de derrubar. Fica menos bonito, mas mais seguro.
Desempenho
Lá fora, o Velvet vem com Snapdragon 765, com 5G. Por aqui, a LG preferiu deixar de lado o novo padrão de conectividade e optar por um SoC (system-on-a-chip) só com 4G mesmo. Mesmo assim, nada de um processador recente, e sim um Snapdragon 845, apresentado originalmente lá em 2018.
É curioso porque é praticamente a oficialização de uma velha recomendação que a gente que é jornalista de tecnologia sempre faz: compre o topo de linha do ano passado porque ele ainda é um bom aparelho e o preço já caiu o suficiente para ser um bom negócio.
E, olha, o Snapdragon 845 ainda tem muita lenha pra queimar e, junto com os 6 GB de RAM e o Android 10, roda muito bem. Apps abrem rápido, transições são fluidas e interfaces rolam bem, sem travadas nem engasgos. O desempenho é muito superior a de intermediários que testei recentemente, como o competente Samsung Galaxy M31, e mesmo jogos mais pesados, como PES e PUBG Mobile, rodam muito bem mesmo com os gráficos na qualidade mais alta.
Software
Esta foi a primeira vez que testei um LG com Android 10 — os últimos modelos que vi eram ainda com a versão 9 do sistema operacional. Eu nunca gostei muito das alterações da marca no Android, mas esse aqui parece ter facilitado algumas coisas, como a organização de pastas e o ordenamento automático dos apps na gaveta.
Também tem recursos interessantes, como um modo de janela suspensa para abrir um aplicativo bem pequenininho em cima de outro — sempre útil para abrir coisas como uma calculadora ou uma agenda sem precisar deixar o que você está fazendo.
O modo noturno abrange todo o sistema e não abusa tanto do preto, apostando mais em efeitos de desfoque e cinza, o que dá um visual bem interessante. Outros recursos e personalizações continuam, como colocar teclas extras na barra inferior ou mudar a cor de fundo da barra superior da interface para esconder o notch.
A LG colocou um recurso de software para ajudar a usar a grande e alongada tela do Velvet. Outros aparelhos oferecem uma opção de interface reduzida, que ocupa só uma parte da tela, mas esse tem uma abordagem diferente.
Ao trazer o dedo da borda para o centro e segurá-lo ali, a metade superior da interface rola até a parte inferior da tela. Assim, se tem algum botão que você não está alcançando com o polegar por estar muito alto, ele “desce”. A interface volta ao normal logo em seguida — não é pra usar o sistema em meia tela o tempo todo, só pra ajudar em alguns momentos mesmo. (Se ficou difícil visualizar com a descrição, tem um vídeo do recurso na prática aqui.)
Seria um recurso bem interessante, mas, no aparelho que eu estava testando, ele parou de funcionar nas primeiras horas de uso e não voltou mais. Mesmo mudando opções, ele não voltou: ao fazer o comando, o aparelho vibrava, mas nada mudava na interface.
Bateria
A bateria dura bem mais do que era de se esperar para os 4.300 mAh. A LG costuma fazer um bom trabalho de software para otimizar o uso de bateria — o próprio sistema sugere quais aplicativos “matar” para que não rodem em segundo plano e acabem com a carga.
Geralmente, quando eu usava moderadamente o celular, apenas para acessar Instagram e Twitter por três a quatro horas no dia, além de responder mensagens e e-mails e pagar contas, a bateria durava quase dois dias — das 8h do primeiro às 18h do segundo. Mesmo nos dias em que passei jogando por muito tempo ela chegou ao fim do dia com 30%. Ou seja: dura bastante.
O Velvet vem com um carregador de 18W. Não chega a ser extraordinário, mas é competente: dá uns 40% de bateria em meia hora e leva entre duas horas e duas horas e meia para completar a carga.
Câmera
A LG também optou pela simplicidade nas câmeras do Velvet. Enquanto alguns aparelhos da marca contam com conjuntos quádruplos, esse aqui vem com um conjunto “apenas” triplo na traseira, deixando de lado a lente macro. Sinceramente, não faz falta — ainda mais levando em consideração que a maioria dos celulares com câmera macro por aí têm sensores de baixa resolução.
O Velvet conta com uma câmera principal de 48 megapixels e abertura f/1.8, uma ultrawide de 8 megapixels e 120 graus de ângulo de visão e um sensor de profundidade de 5 megapixels. Na prática, o conjunto se sai muito bem. Não são fotos impressionantes, mas muito competentes, com ótimo nível de detalhe e saturação e contraste bem equilibrados.
Nos recursos de software, há um detector automático de modos de cena — se você está tentando tirar foto do seu cachorro, por exemplo, ele se ajusta para o modo “animal de estimação”, por exemplo. A diferença é pouca, mas ajuda. Também tem um modo noturno que é apenas razoável — ajuda a deixar mais claros uns cliques à noite ou com pouca iluminação, mas nenhum milagre, já que as fotos ainda saem com muito ruído e definição mediana.
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Conclusão
Se a intenção da LG era fazer do Velvet um smartphone com design bonito e bom desempenho, ela acertou. Nada de recurso por comando de gestos que não funcionava direito, como no G8S. Segunda tela? Diferentemente do G8X, ela é opcional, e será vendida como acessório separado. Se você quiser só um aparelho simples, bonito e funcional, ele cumpre tudo isso com louvor.
E isso faz do Velvet uma boa compra? No momento, ainda não. Ele está saindo na casa dos R$ 3.000, consideravelmente menos do que os R$ 4.300 do anúncio. A recomendação de procurar um topo de linha mais antigo, porém, continua valendo.
Com um pouco mais de dinheiro, dá pra pegar um Galaxy S20 do começo do ano, por exemplo, que tem câmera e software melhores. Se você quer economizar bastante, dá até para optar por um Galaxy S10 Lite, por exemplo, que tem um processador um pouco mais moderno (Snapdragon 855), os mesmos 6 GB de RAM e custa na faixa de R$ 2.200, bem abaixo do Velvet. É curioso que ele parece fazer a aposta contrária: dá preferência às especificações e deixa o design um pouco de lado, com um acabamento bem mais simples.
O grande ponto para saber se o Velvet compensa é ver até onde o preço vai cair. Se você conseguir um bom valor, vá em frente. Ele é um ótimo aparelho, tanto no visual quanto no desempenho.
LG Velvet – ficha técnica
- Processador: Qualcomm Snapdragon 845
- Sistema: Android 10
- Memória: 128 GB de armazenamento, com 6 GB de RAM
- Câmera traseira:
- principal: 48 MP, f/1.8
- ultrawide: 8 MP, 120 graus de visão
- profundidade: 5 MP
- Câmera frontal: 16 MP
- Tela: 6,8” Full HD P-OLED
- Bateria: 4.300 mAh, Quick Charge 3.0, carregador de 15 W, carregamento sem fio
- Peso: 180 gramas
- Portas: USB-C e fone de ouvido
- Sensor biométrico na tela
- NFC
- Resistência IP68 contra água e poeira
- Certificação militar MIL-STD-810G