Estas rochas canadenses podem conter os mais antigos vestígios conhecidos de vida

Nova descoberta sugere maior facilidade de surgimento de vida no Sistema Solar - ou reforça caráter único da Terra nesse sentido

Pesquisadores trabalhando em uma formação de rocha sedimentar ao norte de Labrador, no Canadá, dizem ter provas da descoberta de vida primitiva em rochas de 3,95 bilhões de anos de idade. A descoberta, que já está atraindo críticas e ceticismo, sugere que a vida microbiana emergiu de forma relativamente rápida após a formação do nosso planeta.

• A maior temperatura já experimentada na Terra foi causada pela queda de um asteroide
• O que aconteceria se trouxéssemos um pedaço do Sol para a Terra

A ideia de que a vida poderia ter surgido tão cedo – em um ambiente tão alienígena – é realmente surpreendente. Durante a era Eoarqueana, quando a Terra tinha apenas 500 milhões de anos, a paisagem de nosso planeta era repleta de vulcões, e sua crosta recém-formada ainda estava quente demais para suportar a atividade tectônica. Asteroides e cometas batiam na superfície em um ritmo incrível, entregando a matéria prima química necessária para a vida. Naquela época, a atmosfera da Terra estava sufocada em metano e amônia, sem qualquer oxigênio de flutuação livre em vista. Até mesmo o Sol parecia diferente, brilhando com uma luz em torno de 75% do que vemos hoje.

Foi neste ambiente hostil que a vida primitiva viria a surgir, criar raízes e sobreviver. Novas evidências publicadas nesta quarta-feira (27), na Nature, estão oferecendo mais provas de que a Terra primitiva, apesar dessas condições adversas, foi capaz de sustentar a vida. Traços de atividade biológica presos dentro de rochas sedimentares de 3,95 bilhões de anos de idade podem representar alguns dos primeiros exemplos conhecidos de vida na Terra, empurrando para trás a origem da vida em cerca de 150 milhões a 250 milhões de anos.

Encontrar provas de vida primitiva não é fácil, principalmente porque rochas antigas foram severamente retorcidas e transformadas ao longo do tempo. Os fósseis mais antigos datam de cerca de 3,77 bilhões de anos, mas organismos microbianos podem deixar para trás outros traços de sua existência.

Antes dessa descoberta, algumas das evidências mais antigas de vida haviam sido detectadas em rochas da Groenlândia, incluindo rochas de 3,7 bilhões anos do cinto de Isua e rochas de formação de 3,8 bilhões de anos de idade da formação rochosa Akilia. Mas as rochas analisadas nessa mais recente descoberta, feita por Tsuyoshi Komiya, da Universidade de Tóquio, vêm do pouco estudado bloco Saglek, ao norte de Labrador, no Canadá, que foram datadas em cerca de 3,95 bilhões de anos.

Uma imagem microscópica da forma globular produzida pelos grãos de grafite (Imagem: Tsuyoshi Komiya, da Universidade de Tóquio)

Para o estudo, Komiya procurou por grãos de grafite biogênicos (ou seja, biologicamente produzidos) presos dentro das rochas. Não são impressões fossilizadas dos micróbios, mas as coisas que eles deixaram para trás. Komiya e seus colegas conduziram uma análise geológica detalhada das rochas, ao mesmo tempo medindo as composições químicas de grafite, que parecia ser um indicativo de processos biológicos. Importante, eles descartaram a possibilidade de que as rochas estavam contaminadas por rochas mais jovens. O grafite contido dentro dessas rochas de 3,95 bilhões anos de idade, argumentam os pesquisadores, é de origem biológica e, portanto, sugere vida.

“Este é um excelente artigo com muita informação e outra prova definitiva de que a vida existiu por volta da era Eoarqueana”, disse Dominic Papineau, pesquisador da University College London, em entrevista ao Gizmodo. “Acho que os autores apresentaram um caso sólido, embora pudesse ter sido ainda mais atraente, olhando para as composições elementares e moleculares do grafite e as associações minerais com o grafite.”

Papineau está preocupado com a possibilidade de que o grafite possa ter sido produzido inorganicamente e acredita que os pesquisadores deveriam ter feito mais trabalho para provar sua natureza biogênica. Matthew Dodd, estudante de PhD que trabalha com Papineau na UCL, também gosta do artigo, mas compartilha da mesma preocupação.

“Eu concordo com as conclusões com base nesses dados preliminares. No entanto, o estudo é um pouco limitado em evidência para biogenicidade do grafite “, disse Dodd ao Gizmodo. “Os autores confiam exclusivamente na composição isotópica do carbono no grafite, portanto, vão precisar de ainda mais análises para fornecer evidências conclusivas.”

Dodd diz que a assinatura química detectada por Komiya poderia ter sido produzida por uma variedade de processos químicos sem a necessidade da biologia.

“Carbono isotopicamente leve é encontrado em meteoritos, por exemplo, e sabemos que ele é inorgânico”, disse. “Um trabalho futuro precisará estabelecer outras linhas de prova química, como a existência de elementos biologicamente críticos, tais como nitrogênio, enxofre e fósforo, dentro desse grafite, para a biogenicidade do carbono ser devidamente avaliada.”

Curiosamente, Dodd diz que esses resultados poderiam nos dizer algo sobre como a vida não surgiu apenas na Terra, mas em outros planetas, inclusive Marte.

“Essa pesquisa diminui a diferença de emergência da vida [na Terra] de entre 4,3 bilhões de anos (a era dos oceanos – a vida precisa de água) para 4 bilhões de anos atrás”, afirmou. “Ela fornece uma ligação com a ocorrência da vida em outros lugares do Sistema Solar, já que se acredita que Marte tenha sido semelhante à Terra neste momento. Portanto, devemos esperar encontrar vida em Marte quatro bilhões de anos atrás, se a vida é um processo simples de ser iniciado. Se não encontrarmos evidências de vida em Marte neste momento… então a Terra é um caso especial no Sistema Solar e potencialmente no Universo.”

Realmente, o fato de que a vida começou tão rapidamente na Terra, e sob condições tão estressantes, deve nos levar a acreditar que é uma ocorrência comum em todo o Universo. Mas, como Dodd ressalta, quanto mais tempo passarmos sem encontrar vestígios de vida em outros lugares – incluindo Marte –, mais podemos começar a pensar que o nosso planeta tem algo de especial.

[Nature]

Imagem do topo: Tsuyoshi Komiya, The University of Tokyo

fique por dentro
das novidades giz Inscreva-se agora para receber em primeira mão todas as notícias sobre tecnologia, ciência e cultura, reviews e comparativos exclusivos de produtos, além de descontos imperdíveis em ofertas exclusivas