Vamos falar sobre o impacto das máscaras no oceano?
Muitos hábitos mudaram durante a pandemia de Covid-19. Mas um dos que, sem sombra de dúvidas, deve permanecer por muito tempo é o uso de máscaras em locais públicos, que evitam a propagação do vírus causador da doença.
O equipamento de proteção individual vem sendo usado desde 2020 – e a sua disseminação foi tão rápida que muitos nem sequer se lembram quando compraram a primeira máscara.
Por outro lado, políticas públicas voltadas ao descarte do EPI não caminharam na mesma velocidade, e grande parte do material está tendo um destino inadequado. Estima-se que, apenas em 2020, 1,56 bilhão de máscaras foram parar nos oceanos.
Pensando no futuro do planeta pós pandemia, pesquisadores da Universidade da Cidade de Hong Kong resolveram testar em laboratório os impactos da proteção para o ecossistema marinho.
Os cientistas coletaram máscaras descartadas nas praias de Hong Kong e as colocaram em uma garrafa com líquido que simulava a água do mar. O material na garrafa ficou sendo balançado no recipiente durante nove dias, com auxílio de um agitador mecânico. Todos os resultados foram publicados na Environmental Science and Technology Letters.
E aqui entram alguns números: neste período, uma máscara que pesava cerca de três gramas foi capaz de liberar cerca de 3 mil microplásticos – pedacinhos de plástico inferiores a cinco milímetros que podem levar centenas de anos para se decompor no ambiente.
Durante a decomposição completa de uma máscara, seriam liberados entre 0,88 e 1,17 milhão de microplásticos. Lembra que, só em 2020, 1,56 bilhão de máscaras foram descartadas no oceano? De acordo com os pesquisadores, isso resultou na liberação de 1,370 trilhões de microplásticos no ambiente marinho – o suficiente para encher 54,8 mil piscinas olímpicas.
A pesquisa não parou por aí. Os cientistas quiseram avaliar ainda o potencial do microplástico em entrar na cadeia alimentar e seus efeitos para os seres marinhos.
Os pesquisadores colocaram copépodes – crustáceos marinhos que compõem o zooplâncton – dentro de aquários com água do mar artificial contendo até 100 microplásticos por mL. Outro grupo destes animais, que serviu de controle, não foi exposto ao poluente.
Os copépodes que tiveram contato com os microplásticos ingeriram o material e o acumularam em seus intestinos. Isso resultou em uma queda de 22% na taxa de fecundidade do crustáceo quando comparado ao grupo controle.
Isso indica não apenas um impacto na oferta de alimento, já que menos copépodes podem estar disponíveis na cadeia alimentar, como também a bioacumulação de contaminantes. Ou seja, estes pequenos seres podem continuar levando o microplástico adiante à medida em que são ingeridos por animais maiores, até chegar nos seres humanos.
Para evitar problemas, é importante que autoridades desenvolvam políticas públicas voltadas para o descarte adequado de máscaras que acompanhem a obrigatoriedade da proteção para o rosto. Afinal, não devemos largar as máscaras tão cedo.