Alimentos mudam de sabor na boca por causa da sua saliva; entenda

Estudos apontam que a saliva pode definir qual sabor nos agrada, assim como aromas e texturas dos alimentos. Confira detalhes!
Alimentos mudam de sabor na boca por causa da sua saliva; entenda
Imagem: Leyre del Rio/Unsplash/Reprodução

Ela facilita a fala, protege os dentes e garante um ambiente acolhedor para os alimentos que entram em nossas bocas: a saliva faz muito por nós. E agora, cientistas estão descobrindo que ela pode estar por trás de mais coisas do que imaginávamos, inclusive no sabor dos alimentos. 

Estudos mostram que esse líquido com 99% de água pode ajudar a definir quais alimentos nos agradarão (e quais não iremos passar nem perto!). Ela também determina os aromas e a nossa capacidade de sentir a textura dos alimentos. 

Tudo acontece porque a saliva é um “mediador” e um “tradutor” do paladar, como aponta uma pesquisa publicada em 2022 pela Universidade Zhejiang Gongshang, na China. Após anos de estudos, os cientistas concluíram que a saliva influencia a forma como a comida se move pela boca e como desperta nossos sentidos. 

É por isso que este líquido tem influência sobre quais serão nossas comidas preferidas. “Por meio da saliva detectamos informações químicas dos alimentos: o sabor do sabor”, justificou Jianshe Chen, um dos autores do estudo. 

Segundo ele, isso acontece porque, quando saboreamos a comida, não estamos somente experimentando o alimento, mas uma mistura entre ele e nossa própria saliva. 

Faz sentido: uma pessoa só percebe o sabor doce ou azedo em uma mordida se essa molécula alcançar as papilas gustativas. Para que isso aconteça, é obrigatório que a comida passe pela camada de saliva que reveste a língua. 

“Camada” na língua

Um experimento realizado por biólogos do King’s College London comprovou este fundamento. A equipe quis descobrir porque o refrigerante sem gás é mais doce que a versão com gás. A hipótese era que as bolhas de dióxido de carbono que estouram na boca davam um “golpe ácido” que “distraía” o cérebro da doçura. 

Mas, ao analisar o processo em uma boca artificial, os pesquisadores descobriram que a saliva impede que as bolhas fluam da língua para o palato, a divisão com ossos e músculos que divide as cavidades oral e nasal. 

É como se, ao se unir com as bolhas do gás, a saliva fizesse uma “barreira” para impedir que os açúcares alcancem todos os receptores gustativos na língua. Isso não acontece quando a bebida já está desgaseificada. 

Aromas e texturas 

A saliva também pode afetar a forma como sentimos aromas – componente essencial para a percepção humana do sabor. Isso porque, à medida que mastigamos, algumas moléculas se dissolvem neste líquido, o que faz com que as demais subam até a cavidade nasal e sejam detectadas pelos receptores olfativos. 

Por isso, pessoas com composições ou taxas divergentes de saliva podem ter experiências de sabor bem diversas sobre o mesmo alimento. 

Algo parecido acontece com a saliva na hora de perceber a taxa de gordura da comida. Um exemplo: dois iogurtes podem ter a mesma aparência, mas aquele com a versão em baixo teor de gordura parecerá mais seco na boca. 

A gordura do leite, por exemplo, pode combinar com a saliva para criar uma camada de gotículas na superfície da boca e, assim, mascarar a adstringência. “Isso vai adicionar uma sensação de riqueza ao iogurte”, explicou Anwesha Sarkar, cientista de alimentos da Universidade de Leeds, no Reino Unido. 

Julia Possa

Julia Possa

Jornalista e mestre em Linguística. Antes trabalhei no Poder360, A Referência e em jornais e emissoras de TV no interior do RS. Curiosa, gosto de falar sobre o lado político das coisas - em especial da tecnologia e cultura. Me acompanhe no Twitter: @juliamzps

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