Confira a segunda reportagem da série “Brasileiras no Espaço”, do Giz Brasil com Luisa Santos. Quando pequena, ela observava com curiosidade a Lua no céu limpo do interior do Rio de Janeiro, onde vivia. Na época, o homem já havia pisado no satélite natural da Terra e diversas missões espaciais tripuladas percorriam partes do universo.
Mal sabia ela que cerca de 20 anos depois, estaria trilhando um caminho para ser uma das pessoas nessas tripulações. Hoje, Luisa é a mulher do Hemisfério Sul com participação no maior número de missões análogas.
Essas experiências consistem em simulações de como é a vida de um astronauta durante uma viagem ao espaço. Em geral, o processo acontece em lugares isolados, os participantes usam roupas apropriadas e seguem uma rotina que vai da pesquisa à limpeza, do planejamento aos cuidados com a saúde física e mental.
Esteve no Habitat de Marte
Nas missões em que participou anteriormente, Luisa esteve no Habitat de Marte, localizado em Caiçara do Rio do Vento, a duas horas de Natal, no Rio Grande do Norte, onde as características de solo da caatinga se assemelham ao de Marte. Lá, a jovem passou por experiências que duraram entre três e cinco dias.
“Eu me apaixonei pela área de análogas no nível de me tornar astronauta análoga, de viver aquele sonho que tava morto lá na infância”, diz. No total, ela soma 18 dessas missões. E este não é o único destaque de sua trajetória, que acumula estudos, empreendedorismo e dedicação.
Eu quero não só fazer tecnologia e ciência, mas que isso também retorne para o Brasil.
Um caminho trilhado no estudo
“Sempre gostei muito de entender as coisas para compartilhar com pessoas. Então eu comecei a estudar”, comenta a jovem durante a entrevista ao Giz Brasil. Seu foco nos estudos fez com que recebesse inúmeras vezes o certificado de melhor aluno da sala.
Assim, de aluna com dificuldade em matemática, Luisa passou a se destacar nas provas e ser professora dos seus amigos nas horas vagas.
Depois, um pouco mais velha, a imersão de estudos para a Olimpíada Brasileira de Física se emendou na preparação para o vestibular do ITA (Instituto Tecnológico de Aeronáutica) e para o ENEM. Já na UFRN (Universidade Federal do Rio Grande do Norte), passou pelo curso de Ciência e Tecnologia, que abriu portas para a graduação em engenharia mecânica.
Nesse período, esteve em projetos de pesquisa que relacionaram o feminismo e a pesquisa científica. E também que aprofundaram conhecimentos na área de hipersônica – veículos que se movem em velocidades acima da utilizada por aviões, que é a supersônica.
Luisa também passou pelo grupo Potiguar Rocket Design, de modelismo de foguetes, projeto ao qual atribui grande parte de sua experiência com empreendedorismo. “Foi a primeira vez que eu também operei um foguete”, conta, exaltando também o trabalho nas áreas de pesquisa, direção de projetos e a mão na massa, de fluídos e aeromodelismo.
Foi neste momento que conheceu o Habitat de Marte e passou a se dedicar a mais uma área: o estudo da prática de um astronauta.
Compartilhar tudo o que sabe
“Eu soube que o meu pionerismo na área iria trazer outras mulheres depois. É isso que me move”, afirma Luisa. Hoje, tudo o que aprendeu – às vezes, sozinha; às vezes, com parceiras de carreira; às vezes, com mentores -, ela passa para outras pessoas que, assim como ela, querem trilhar um caminho ainda pouco explorado no Brasil.
Para ela, poucas pessoas têm a possibilidade de externar trajetórias na área, mas há um público interessado. Com isso em mente, ela coloca em prática seu lado empreendedor e ocupa todos os espaços que lhe cabem para mostrar o que é possível fazer na ciência e na astronáutica brasileiras.
“Na minha infância faltou. E aí hoje eu percebo que talvez, se eu tivesse tido essa influência mais cedo, eu até tinha desenvolvido mais o que eu tinha no meu coração”, comenta. Não à toa, a jovem concorreu ao Prêmio Mulheres no Espaço 2024 pela categoria empreendedora. Embora não tenha vencido, seus projetos e o avanço de sua carreira consolidam a importância do seu trabalho.
Agora, um dos espaços que a jovem encontrou para fazer esse trabalho de compartilhar conhecimento é o Geração de Marte. Junto com Juliana Leonet, outra aspirante a astronauta, Luisa alimenta uma comunidade de pessoas com interesses em comum.
Entre adolescentes, jovens e adultos, ela oferece suas experiências e conhecimentos da área da pesquisa científica à astronáutica. Assim, equilibra na rotina seu mestrado no INPE (Instituto de Pesquisas Espaciais), um grupo de pesquisa da ONU, as palestras que dá, as missões análogas e o Geração de Marte.
– Confira também as outras duas personagens da série “Brasileiras no Espaço”, do Giz Brasil: