Células da mama preservadas em gel viabilizam tratamento para o câncer
Cientistas descobriram uma maneira para preservar o tecido das mamas fora do corpo por, ao menos, uma semana, com a ajuda de um gel. Agora, eles querem testar os medicamentos mais apropriados para cada caso de câncer de mama nestas células vivas.
A ideia é compreender as melhores alternativas para tratamento e prevenção da doença para cada paciente e, ainda, sem a necessidade de testes em animais.
“Nem todos os medicamentos funcionam para todas as mulheres. Essa nova abordagem significa que podemos começar a determinar quais medicamentos funcionarão para quais mulheres medindo seu impacto no tecido vivo”, explicou ao The Guardian a pesquisadora da Universidade de Manchester e autora do estudo, Hannah Harrison.
Os resultados foram publicados no Journal of Mammary Gland Biology and Neoplasia.
Entenda a pesquisa
Para o estudo, Harrison e sua equipe utilizaram um conjunto de células mamárias de uma voluntária. A amostra de tecido não tinha conteúdo canceroso e foi retirada após cirurgia de redução de risco, disponibilizada no Biobank do Manchester Cancer Research Centre e utilizada com consentimento da paciente.
Então, os cientistas usaram a solução de gel VitroGel para preservar o tecido. “Ao testar diferentes fórmulas de hidrogel, conseguimos encontrar uma solução que preserva o tecido mamário humano por pelo menos uma semana – e muitas vezes por ainda mais tempo,” disse Harrison.
Em geral, o tecido mamário preservado manteve sua estrutura, tipos celulares e capacidade de responder a uma série de medicamentos.
Assim, eles descobriram que o hidrogel “mantém a proliferação epitelial, a expressão de receptores hormonais e a presença de células T e macrófagos por mais de 7 dias”, segundo escreveram no artigo.
“Isso é realmente revolucionário para a pesquisa sobre o câncer de mama em muitos aspectos. Podemos testar melhor os medicamentos tanto para a prevenção quanto para o tratamento do câncer, e podemos examinar como fatores como a densidade mamária – que sabemos ser um fator de risco para o câncer de mama – reagem a hormônios ou produtos químicos específicos para ver se isso tem um impacto no desenvolvimento do câncer”, comentou Harrison.
Avanço na ciência
De acordo com os pesquisadores, os modelos pré-clínicos disponíveis para testes não podiam recapitular completamente as complexidades do tecido humano. Ainda faltavam a matriz extracelular humana, estroma e células imunes, estruturas que influenciam a resposta aos tratamentos.
Dessa forma, a nova pesquisa abre caminho para que cientistas testem novos medicamentos com mais precisão.
“O que deve significar menos falhas nos ensaios clínicos e, em última análise, melhores resultados para as mulheres afetadas por essa terrível doença”, explicou Harrison. Futuramente, essas pacientes poderão tomar o medicamento mais eficaz para sua composição genética particular.