Chuvas de meteoros artificiais serão o espetáculo desnecessário do futuro

Um foguete Epsilon-4 decolou do Centro Espacial da JAXA em Uchinoura, no Japão. A bordo, ele levava um satélite capaz de gerar chuvas de meteoros artificiais ao soltar minúsculas partículas da órbita. O show de luzes resultante deve produzir listras mais brilhantes que as estrelas cadentes naturais — mas quem vai se importar com isso? […]
Representação artística da chuva de meteoros artificiais. Eles podem ou não ter essa aparência. Ilustração: ALE

Um foguete Epsilon-4 decolou do Centro Espacial da JAXA em Uchinoura, no Japão. A bordo, ele levava um satélite capaz de gerar chuvas de meteoros artificiais ao soltar minúsculas partículas da órbita. O show de luzes resultante deve produzir listras mais brilhantes que as estrelas cadentes naturais — mas quem vai se importar com isso?

O projeto é chamado de Sky Canvas e é uma criação da Astro Live Experiences, ou ALE. A companhia, com sede em Tóquio, espera produzir um show de luzes espetacular em 2020, acima dos céus de Hiroshima e do Mar Interior de Seto. Se a Sky Canvas se sair de acordo com o planejado, a chuva de meteoros artificial deve ficar visível para milhões de pessoas em uma área que se estende por 200 quilômetros, de acordo com a FAQ da empresa.

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Antes que isso possa acontecer, no entanto, a empresa primeiro precisa testar o conceito. Às 9h50 desta sexta-feira (18), horário do Japão, a JAXA lançará uma versão em pequena escala da plataforma necessária para tornar o espetáculo possível. A ALE usará a experiência para coletar o máximo de dados possível e ajustar conforme necessário, relata a Cnet.

https://vimeo.com/231032391

Veja como deve funcionar, de acordo com o site da ALE. Quando o satélite atingir a órbita baixa da Terra, a cerca de 400 quilômetros do solo, ele soltará um fluxo de minúsculos pedacinhos chamados de “partículas”. A empresa diz ter projetado essas partículas especialmente para que caíssem lentamente pela atmosfera durante a reentrada e brilhassem o máximo possível. Cada partícula mede cerca de um centímetro de diâmetro e pesa apenas alguns gramas.

Depois que forem liberados, os meteoros artificiais percorrerão um quinto do caminho ao redor da Terra antes de entrar na atmosfera. Assim que o fizerem, a fricção intensa fará com que brilhem. As faixas visíveis devem durar cerca de dez segundos ou mais, o que é um pouco mais longo que as estrelas cadentes naturais. Durante um show em grande escala, como o que está sendo planejado para 2020, uma pessoa deve ver cerca de cinco a 20 estrelas cadentes artificiais durante uma sessão média, cuja duração não é conhecida. A ALE diz que o espetáculo deve ser brilhante o suficiente para ver até mesmo de cidades iluminadas como Tóquio.

As partículas devem queimar completamente a alturas entre 40 a 60 quilômetros, bem acima da faixa de aviões comerciais, que normalmente voam a uma altitude de dez quilômetros. A ALE espera impactos “mínimos” no ambiente causados pela “poeira espacial” que se segue ao cair na Terra.

A empresa disse que cada satélite deve ser capaz de “vários milhares de lançamentos”, embora não esteja claro quantas partículas serão lançadas para cada show. Quando o satélite estiver fora de operação, ele se desintegrará durante a reentrada para minimizar os detritos espaciais.

A ALE diz que o objetivo do Projeto Sky Canvas é

levar pessoas de todo o mundo a testemunhar uma experiência coletiva sem precedentes. Usando o espaço como nosso palco, nos esforçaremos constantemente para dar vida a novos níveis de entretenimento enquanto utilizamos sua tecnologia no desenvolvimento da ciência.

É claro que as chuvas de meteoros naturais, como as belíssimas e altamente previsíveis Perseidas e Leônidas, são plenamente capazes de atingir esses objetivos específicos. Não está claro como as minúsculas bolas brilhantes de ALE podem ajudar no “desenvolvimento da ciência”.

O que está claro, no entanto, é que a ALE está ansiosa para conseguir uma fatia inicial da torta de entretenimento espacial, que, infelizmente, é uma das grandes tendências para os próximos anos. Como a empresa declarou em seu site, atualmente está “procurando patrocinadores” para sediar o evento previsto para acontecer no primeiro semestre de 2020. Em outras palavras, ela está claramente à procura de dinheiro, porque, além de “unir o mundo”, a empresa quer ser rentável.

De fato, a coisa de colocar tanta parafernália no espaço está ficando fora de controle. Um ano atrás, por exemplo, a Rocket Lab, uma startup de foguetes, lançou um globo de espelhos em órbita chamada Humanity Star. Em dezembro do ano passado, o artista Trevor Paglen, com a ajuda do Museu de Arte de Nevada, lançou o Orbital Reflector — uma instalação de arte espacial temporária e brilhante.

Nenhum desses truques promocionais gerou muito interesse na Terra, e é provável que o projeto Sky Canvas da ALE, com suas cinco a 20 estrelas cadentes por sessão, também tenha o mesmo fim.

[Astro Live Experiences, Cnet]

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