Cientistas propõem usar cocô de insetos para alimentar população mundial
Buscando encontrar fontes mais sustentáveis de proteínas, um grupo de cientistas descobriu o potencial do cocô de insetos como uma fonte de alimento. A agência governamental norueguesa NORCE, focada em biotecnologia marinha, realizou a pesquisa.
Trabalhando há anos com microalgas fotossintéticas como matéria-prima sustentável para alimentos, rações e mais, os pesquisadores pretendem usar os excrementos – incluindo resíduos de fezes, pele, esqueleto e comidas dos animais cultivados na Europa e na Noruega — para substituir os fertilizantes químicos no cultivo das microalgas.
Encontradas em águas salgadas e doces, as microalgas são pequenas “células vegetais” com alto teor de proteínas e aminoácidos que servem para a produção de alimentos. Além disso, os cientistas dizem que elas podem ser cultivadas em terras não aráveis e com pouca necessidade de água.
Como foi feito o estudo do cocô de insetos
A estudiosa Pia Steinrücken, junto com Hanna Böpple e Dorinde Kleinegris, da NORCE, e Oliver Müller, da Universidade de Bergen, investigaram essa possibilidade com a microalga Chlorella vulgaris. A pesquisa revelou que microalgas cultivadas com nutrientes do cocô de insetos cresceram tão bem quanto as outras, com alto teor de proteína — de 40% do peso seco.
Steinrücken explica o processo: “O excremento do inseto vem de Larveriet em Voss, que produz larvas alimentadas com resíduos orgânicos. É entregue em pó, que misturamos com água para liberar os nutrientes. Em seguida, centrifugamos as partículas não solúveis em água. O líquido é então esterilizado para minimizar o risco de infecção bacteriana e contaminação das algas.”
A ideia é que, para crescerem, as algas precisam de determinada quantidade de nutrientes como nitrogênio e fósforo. Eles são amplamente presentes em resíduos da indústria e da agricultura. No caso do nitrogênio, por exemplo, as microalgas usaram entre 71% e 78% da quantidade disponível nos excrementos. Ou seja, o cultivo viabiliza um uso benéfico dos resíduos, além de redução de custos com meios químicos de crescimento.
Mas, apesar dos testes promissores, a produção atual ainda é cara e em pequena escala. Dessa forma, é necessário investir em tecnologias de produção em maior escala para tornar possível a nova fonte de proteína sustentável.
Além disso, vale lembrar que esse processo também gera resíduos, como a massa úmida após a extração dos nutrientes. Porém, ela pode servir como fertilizante para plantas, segundo Steinrücken. A revista Bioresource Technology Reports publicou o estudo.