Cobras escutam e reagem aos sons, sugere estudo da Austrália
Um novo estudo da Universidade de Queensland, da Austrália, mostrou que as cobras não só escutam as vibrações sonoras transportadas pelo ar como também reagem a elas. A descoberta quebra o mito de que esses animais são surdos – na verdade, as cobras “ouvem” através da vibração do solo, movimento chamado como “detecção tátil”.
A pesquisa observou 19 cobras de sete espécies para identificar se tinham e como cada uma respondia à audição aérea. “Concluímos que as cobras usam a audição para ajudá-las a interpretar o mundo e, finalmente, dissipar o mito de que são surdas ao som do ar”, escreveu Christina Zdenek, a principal autora do estudo, no site The Conversation.
Nos experimentos, a equipe de pesquisadores levou cada uma das cobras para um laboratório com isolamento de som. Lá, tocaram três áudios, cada um em uma faixa de frequência: 1 a 150 Hz, 150 a 300 Hz e 300 a 500 Hz.
Em termos de comparação, a voz humana tem alcance de 100 a 250 Hz. Já o canto dos pássaros pode chegar a 8.000 Hz.
Os cientistas usaram um acelerômetro para detectar se os sons produziam vibrações no solo. Isso possibilitou que identificassem se elas estavam de fato registrando os sons transportados pelo ar e não apenas sentindo as vibrações causadas pela música.
Como cada cobra reagiu aos sons
A maioria dos animais exibiu diferentes tipos de comportamento em cada um dos testes. Veja quais foram as reações de algumas das espécies.
- Píton-da-Areia (Aspidites ramsayi): a serpente não-venenosa nativa do interior árido da Austrália levantou o torso frontal ao ouvir o som se aproximar dela. Os cientistas interpretaram a posição do corpo como indicativo de “curiosidade”.
- Víboras da morte (Acanthophis), Taipans (Oxyuranus) e cobra marrom (Pseudonaja): no experimento, essas três espécies se mostraram mais propensas a se afastar do som, sinalizando um comportamento de evitação.
A principal conclusão do estudo é que as cobras não são surdas – elas só não conseguem ouvir tão bem quanto nós, humanos. Esses animais escutam baixas frequências, provavelmente abaixo dos 600 Hz. O ser humano, por sua vez, pode ouvir de 20 a 20.000 Hz.
“As cobras provavelmente escutam versões abafadas do que fazemos”, concluiu a pesquisa. Na prática, o mais provável é que esses animais escutem nossos gritos com mais facilidade.
“Os sons que tocamos em nossos testes incluíam essas frequências e foram tocados a uma distância de 1,2 m das cobras a 85 decibéis. Trata-se da amplitude de uma voz alta”, afirmou Zdenek.
Isso não significa que as cobras não possam ouvir alguém falando. Uma conversa em tom normal, por exemplo, tem cerca de 60 decibéis. Mas a pesquisa não tentou esse nível de ruído.
Como as cobras percebem o ambiente?
As cobras até podem não ouvir muito bem, mas isso não torna elas menos perigosas. Ao abrir a boca e colocar a língua bifurcada para fora, elas captam moléculas do ar e analisam se há presas ou predadores por perto através do órgão chamado vomeronasal.
Além disso, têm uma visão privilegiada, especialmente durante a noite. Isso porque sentem as ondas de calor das suas presas, o que facilita o bote quando está mais escuro.