Como as cobras ajudam na proliferação de plantas ao comer ratos

Ao lembrar do ciclo da vida, é possível imaginar uma cena em que uma zebra come uma planta, um leão come a zebra, o leão morre e seus restos mortais fertilizam o solo, promovendo o crescimento de novas plantas. De fato é mais ou menos isso o que acontece mesmo, mas já parou para pensar […]

Ao lembrar do ciclo da vida, é possível imaginar uma cena em que uma zebra come uma planta, um leão come a zebra, o leão morre e seus restos mortais fertilizam o solo, promovendo o crescimento de novas plantas. De fato é mais ou menos isso o que acontece mesmo, mas já parou para pensar onde as cobras se encaixam no meio disso tudo?

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Um novo estudo de uma equipe de biólogos descobriu que cobras cascavéis podem ser responsáveis pelo crescimento de novas plantas ao se alimentarem de ratos que armazenavam sementes em suas bochechas. Se não fosse pela intervenção do réptil, muitas das sementes seriam destruídas, mas elas pareceram germinar sem problemas assim que entram no colo das cobras.

Enquanto muitas plantas precisam que roedores e animais espalhem suas sementes, pesquisadores notam que parte delas são eliminadas durante o processo. Pássaros e outros grandes mamíferos que comem roedores podem ser classificados como disseminadores de segundo grau. Então é possível que cobras estejam salvando sementes ao se alimentar de ratos antes deles as digerirem. O papel destes répteis na distribuição das sementes, no entanto, ainda não foi estudado o bastante.

“O fato do resgate de sementes e a distribuição secundária pelas cobras não é um tópico muito investigado, e porque um número de outras espécies de cobras consome pássaros e mamíferos [comedores de grão e comedores de frutas], nossas observações oferecem direções para futuros estudos empíricos deste incomum, mas potencialmente importante canal de distribuição de sementes”, escrevem os autores no artigo publicado nesta semana pelo Proceedings of Royal Society B.

Para pesquisar este processo, os cientistas abriram diversas cobras mortas preservadas em museus. Eles analisaram 50 espécimes e descobriram presas em “22 em estômagos, 17 em intestinos superiores e 25 em intestinos inferiores”, contabilizando um total de 36 roedores. Eles também encontraram 971 sementes, a maior parte dentro dos intestinos – 19 delas estavam germinadas e 11 destas sementes já germinadas estavam dentro de uma única cobra.

Todo esse trabalho providenciou “evidencias convincentes” que três espécies de cobras norte americanas disseminavam sementes ao se alimentar de roedores. Além disso, as sementes se mantêm viáveis conforme atravessam o sistema digestivo das cobras, conforme evidenciado pelas sementes encontradas estarem quase sempre intactas ou até mesmo germinadas.

E faz sentido: assim como carnívoros, cobras não conseguem (e geralmente não podem) digerir material vegetal. Ao ingerir ratos, elas poder proteger as sementes do sistema digestivo dos animais que conseguem digeri-las. E são necessárias cerca de duas a três semanas para algo ir da boca até o orifício da cobra, o que as tornam importantes agentes na dispersão das sementes em outros lugares.

Outros cientistas parecem animados com o estudo. Laura Alencar, herpetóloga da Universidade de São Paulo, disse em um tuíte que este era um “estudo de história natural muito bom”.

É óbvio que é preciso desenvolver a descoberta, já que estes são apenas estudos de laboratório, não pesquisas feitas na natureza. Os cientistas sugerem tentar plantar as sementes depois de as cobras as eliminarem. Talvez seja a hora de pensar nestes animais em algo além de apenas cruéis comedores de ratos.

“Inclusive, em vez de categorizar cobras apenas como predadores”, escrevem os autores, “deveríamos iniciar pesquisas que estudem seus potenciais papeis dentro do ecossistema”.

[RSPB]

Imagem de topo: William Warby/Flickr

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