Camada que protege o gelo marinho mais antigo do Ártico desaparece meses antes do previsto

Arco do estreito de Nares mantém a Baía de Baffin fechada ao gelo marítimo do norte até junho ou agosto, mas este ano ele começou a se desintegrar em março.
O Estreito de Nares, aberto em meados de maio. Foto: NASA Earth Observatory

Todo verão, quando o Ártico se aquece, estradas sazonais se abrem no oceano, permitindo que o gelo marinho migre para o sul e derreta. Agora, os dados de satélite revelaram que a porta de entrada para uma via importante — o Estreito de Nares, que divide o noroeste da Groenlândia e a Ilha Ellesmere do Canadá — se desfez meses antes do previsto. E isso poderia significar ainda mais problemas para o mais antigo e mais criticamente ameaçado gelo marinho do Ártico.

Normalmente, a Baía de Baffin, ao sul do Estreito de Nares, permanece fechada ao gelo marítimo do norte até junho, julho ou até mesmo agosto, graças à presença de uma camada de gelo que se forma na foz do norte entre novembro e janeiro, assumindo uma forma de arco espetacular. Este ano, no entanto, o arco do estreito de Nares começou a se desintegrar em março. Kent Moore, um pesquisador do gelo marinho da Universidade de Toronto, descreveu seu colapso como “muito rápido”, com o arco tendo desaparecido em apenas alguns dias.

Embora ainda não esteja claro o que exatamente motivou a abertura dessa comporta, não é a primeira vez que isso acontece. Um rompimento prematuro semelhante ocorreu em maio de 2017, e a pesquisa de Moore identificou esse fenômeno em uma série de ventos de primavera atipicamente fortes. Baseado no padrão de nuvens em imagens de satélite tiradas em 19 de março, poucos dias antes do rompimento deste ano, Moore suspeita que ventos podem ter novamente desempenhado um papel-chave, uma ideia que ele continua investigando.

É provável que as mudanças climáticas também estejam influenciando esse fenômeno. O Ártico está aquecendo duas vezes mais rápido que o resto do planeta, e o gelo marinho está diminuindo em todos os lugares. Mark Serreze, diretor do National Snow and Ice Data Center, disse ao Gizmodo que, embora não seja possível tirar muitas conclusões com base na análise de um único ano, “quando você pega um bloco de gelo mais fino, ele é um bloco de gelo mais fraco e vai ser quebrado mais facilmente”.

O arco pode simplesmente não ser tão forte quanto antes, o que poderia ajudar a explicar por que ele também teve rupturas prematuras em 2008 e 2010, e por que ele não se formou, em 2007, como apontado pelo NASA Earth Observatory. “O fato de que estamos vendo vários desses rompimentos prematuros na última década, é consistente com o aquecimento global do Ártico”, disse Serreze.


Esta animação mostra o gelo que flui através do Estreito de Nares de 19 de abril a 11 de maio. GIF: Worldview da NASA (Centro Nacional de Dados de Neve e Gelo )

O rompimento prematuro dessa conjuntura pode significar más notícias para o antigo gelo marinho do Ártico, que sobrevive ao derretimento do verão para durar vários anos e que já está em estado severamente reduzido.

Serreze explicou que, embora um caminho diferente — o Estreito de Fram entre o leste da Groenlândia e Svalbard — seja quem “comanda” em termos do volume total de gelo que sai do Ártico, o gelo espesso e de vários anos tende a se acumular ao longo do litoral do Arquipélago Ártico Canadense e do norte da Groenlândia. É mais provável que o gelo escape para o sul através do Estreito de Nares. Então, quando sua entrada abre meses antes, há muito mais oportunidades para o gelo antigo migrar para o sul e derreter.

A perda desse gelo é um problema apenas para os ursos polares que dependem dele como habitat, mas para o Ártico como um todo, que depende de seu gelo marinho no verão para refletir a luz do sol e mantê-lo frio.

A área do alto Ártico canadense ao redor do Estreito de Nares é onde os modelos climáticos projetam que o gelo mais antigo e de vários anos durará mais tempo. Isso levou os grupos conservacionistas, como o World Wildlife Fund, a pressionarem por maiores proteções ecológicas no país, apelidado de “Last Ice Area”. Moore apoia essas proteções — mas, ao mesmo tempo, se preocupa com o que aberturas cada vez mais precoces do Estreito de Nares significarão para a região como um todo.

“[The Last Ice Area] pode não persistir por tanto tempo como as pessoas imaginam se esse for um novo modo de perda de gelo”, disse ele.

[NASA Earth Observatory]

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