Ciência

Pagar aluguel te envelhece mais rápido que obesidade, diz estudo

Estudo do Reino Unido comparou formas de moradia com envelhecimento biológico e descobriu relação entre pagar aluguel e a saúde
Imagem: Alexander Grey/ Unsplash/ Reprodução

Viver em casas alugadas está acelerando o envelhecimento biológico de pessoas no Reino Unido, sugere estudo publicado na revista Journal of Epidemiology & Community Health.

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De acordo com a pesquisa, os impactos negativos na saúde de alugar uma casa mostraram ser maiores ou semelhantes aos de estar desempregado, ter obesidade ou ser ex-fumante.

Entenda o contexto

No Reino Unido, há três opções para morar em uma casa ou apartamento. A primeira é comprá-la, a segunda alugá-la e a terceira é contar com um subsídio do governo para fazer o que se chama de aluguel social.

Mas, segundo o estudo, as casas de aluguel oferecem não apenas um custo de vida mais alto, como também condições mais precárias de moradia. Isso porque há mais problemas com umidade, falta de sistema de aquecimento e também muitas casas deterioradas.

Um levantamento mostra que 23% das propriedades de aluguel não atenderam ao Padrão de Lar Decente da Pesquisa de Habitação da Inglaterra em 2021. Nas casas em que os moradores são donos do imóvel, o número cai para 13%. Enquanto isso, as habitações sociais não atenderam ao padrão em apenas 10% dos casos.

No entanto, aproximadamente 5 milhões de domicílios são alugados no Reino Unido, um número que dobrou nos últimos 20 anos. Já o aluguel social é visto com certo estigma pela população, mas ainda assim oferece uma estadia mais confortável, segundo a pesquisa.

Essa impressão se deve especialmente à insegurança que as casas de aluguel passam aos seus moradores. Não há garantia de permanência, de modo que um erro nas contas do mês e um atraso no pagamento pode colocar tudo a perder.

A autora do estudo, Emma Baker, explica que”políticas para reduzir o estresse e a incerteza associados ao aluguel, como acabar com os despejos sem motivo justificado, limitar os aumentos de aluguel e melhorar as condições, podem contribuir para reduzir os impactos negativos do aluguel”.

O que diz a pesquisa

Para o estudo, cientistas analisaram dados de pesquisas realizadas com 1420 adultos na Grã-Bretanha. Eles levaram em consideração aspectos da moradia, como posse – ou seja, se uma pessoa aluga ou possui uma propriedade; qual o tipo de construção; se ela recebe apoio financeiro do governo; se há a presença de aquecimento no imóvel; e e se a casa estava localizada em uma área urbana ou rural.

Então, os cientistas realizaram uma análise do envelhecimento biológico dessas pessoas. O termo se refere ao dano cumulativo aos tecidos e células do corpo, independentemente da idade cronológica. Para isso, acompanharam o processo de metilação do DNA, um mecanismo que impulsiona o envelhecimento humano. Assim, puderam associar alguns aspectos de moradia com o envelhecimento biológico mais rápido. 

O resultado é que atrasar o pagamento do aluguel mais de uma vez e estar exposto a áreas com muita poluição, por exemplo, fazem as pessoas envelhecerem biologicamente mais rápido. 

De modo geral, viver em casas de aluguel acelera o envelhecimento em uma taxa que equivale à metade do nível associado ao tabagismo. Além disso, dobrou a taxa relacionada à obesidade. O impacto de alugar, em vez de ser proprietário, também foi quase o dobro quando comparado à relação entre estar desempregado em vez de ter um trabalho fixo. Entretanto, os pesquisadores descobriram que esses impactos são reversíveis. 

Impactos e limitações

Os estudiosos acreditam que os resultados oferecem informações importantes sobre a relação entre habitação e saúde, com reflexos que devem ocorrer em todo o mundo – especialmente em países com políticas habitacionais semelhantes, como a Austrália.

Contudo, os autores do estudo reconhecem as limitações da amostra, que incluiu apenas pessoas brancas e europeias. Por isso, esperam ampliar o trabalho, usando dados de diferentes países.

A co-autora do estudo Amy Clair afirma que os impactos na saúde devem ser uma consideração importante na formulação de políticas habitacionais. “Nossas descobertas demonstram que as circunstâncias habitacionais têm um impacto significativo no envelhecimento biológico. Ainda mais do que outros determinantes sociais importantes, como o desemprego, por exemplo”, justifica.

Bárbara Giovani

Bárbara Giovani

Jornalista de ciência que também ama música e cinema. Já publicou na Agência Bori e participa do podcast Prato de Ciência.

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