Permafrost da Sibéria tem de “vírus zumbi” a bigode de leoa de 28 mil anos
O derretimento do solo gelado da Sibéria, conhecimento como permafrost, não é só uma demonstração dos efeitos das mudanças climáticas, mas também uma ameaça para a humanidade. Isso porque há risco de que o degelo exponha desde vírus antigos até espécies extintas.
Uma equipe de cientistas europeus já encontrou 13 patógenos que até então estavam “presos” no solo da região russa. Com o descongelamento, os vírus voltaram à ativa – motivo pelo qual foram apelidados de “vírus zumbis”.
A hipótese é que os vírus estivessem congelados há mais de 48.500 anos. O registro dos microrganismos está em um estudo preprint lançado em novembro no site BioRxiv. Isso significa que a pesquisa ainda não passou pela revisão dos pares.
Ainda assim, os resultados são alarmantes. “Cada vez que olharmos, encontraremos um vírus novo”, disse Jean-Michel Claverie, coautor do estudo e virologista da Universidade Aix-Marseille, da França, ao jornal Washington Post.
A tendência é que estes vírus “zumbis” não representem uma grande ameaça à saúde pública. Aqueles que sobrevivem ao congelamento por milênios não costumam ser tão potentes como os patógenos atuais.
Mas os cientistas estão atentos: o aparecimento desses agentes infecciosos tão antigos demonstram a gravidade – e rapidez – do aquecimento global sobre as camadas mais frias da Terra.
Espécies descongeladas
Além dos vírus zumbis, o derretimento do permafrost da Sibéria também revela outras espécies extintas há milhares de anos. A lista inclui rinocerontes lanosos, ursos pardos, renas, lobos e bisões – muitos enterrados na neve há 40 mil anos.
Um caso emblemático é o do leão-das-cavernas. Em 2018, um caçador de mamutes encontrou os fósseis de dois animais em um estado de preservação inédito: era possível distinguir cada um dos fios de bigodes dos felinos.
Os animais, batizados de Sparta (fêmea) e Boris (macho), não viveram na mesma época. Nas análises, cientistas estimaram que Sparta teria 28 mil anos, e Boris 50 mil. Nos dois casos, os fósseis eram de leões filhotes, com um a dois meses de idade.
Pinturas rupestres apontam que esses animais eram maiores que os leões africanos que existem hoje. Mas, diferente deles, parece que não tinham juba e eram mais peludos.
Em 2021, um estudo da Academia Russa de Ciências mostrou que pesquisadores tentavam sequenciar o genoma do animal extinto. O objetivo era clonar a espécie, mas não há informação de que o grupo tenha alcançado sucesso.