[Review] Moto X Force: a resistência tem seu preço
Você já deve ter visto alguém com a tela do celular toda trincada usando o aparelho por aí — se é que você mesmo já não passou por essa situação chata. Gastar dinheiro para consertar não é legal, ficar com um smartphone que não dá para ver a tela direito não é legal, e quase todo aparelho está sujeito a isso.
Quase todo, mas não todo: o Moto X Force, lançado há algumas semanas, promete não quebrar com qualquer quedinha, não, além de trazer hardware de topo de linha. E aí, ele é durão mesmo?
O que é?
O Moto X Force faz parte – junto ao Play e Style – da terceira geração do Moto X, smartphone da Motorola lançado em 2013. O Force é a variante mais cara do aparelho, para quem quer resistência, durabilidade e bateria que dure bastante, além de hardware de primeira. Para isso, ele oferece uma tecnologia de proteção contra quedas chamada ShatterShield, garantia de quatro anos contra avarias na tela (que não cobrem uso incorreto) e bateria de 3.760 mAh.
O aparelho também vem com especificações que o colocam como um smartphone top de linha:
– tela AMOLED de 5,4 polegadas com resolução Quad HD (2560×1440 pixels)
– processador Snapdragon 810 (octa-core, 2,0GHz)
– 3 GB de RAM
– 64 GB de armazenamento expansíveis por microSD
– câmera traseira de 21 megapixels com flash com dois LEDs e foco automático por detecção de fase
– câmera frontal de 5 megapixels com flash
– bateria de 3.760 mAh com carregamento TurboPower e suporte a carregamento sem fio padrão Qi
Com tudo isso, o Moto X Force tem preço recomendado de R$ 3.149.
Design
O Moto X Force tem uma cara bem parecida com o resto dos smartphones da Motorola: bordas superior e inferior curvadas, cantos arredondados, botão de volume liso e botão de ligar/bloquear com ranhuras, ambos na borda direita da tela. As bordas, aliás, são de metal neste aparelho, o que dá uma impressão (no caso, correta) de resistência.
Na frente do aparelho, fica uma tela de 5,4 polegadas AMOLED com resolução QuadHD (também conhecida com o 2K, com 2560×1440 pixels). Ao contrário do que acontece no Moto X Style, que tem bordas mínimas, no Moto X Force elas têm uma espessura considerável. O resultado é um aparelho meio desajeitado para se segurar, em que você tem que fazer um esforço para alcançar os cantos da tela com o polegar.
Na traseira, o modelo que testamos veio com revestimento de nylon balístico, material agradável ao toque e que dá uma boa aderência – as outras opções são couro legítimo e silicone. Nosso repórter Daniel Junqueira disse, em suas primeiras impressões sobre o aparelho, que o material da traseira de seu Moto Maxx costuma desfiar, mas nestas semanas que passei com o Moto X Force, o material permaneceu intacto. A Motorola também colocou, assim como em seus aparelhos mais recentes, uma parte metálica, agrupando os LEDs do flash da câmera, a lente, e um espaço côncavo para apoiar o indicador.
O resultado é um aparelho meio desajeitado para se segurar, em que você tem que fazer um esforço para alcançar os cantos da tela com o polegar. Para quem está acostumado com aparelhos da faixa intermediária, como é o meu caso, o Moto X Force é um pouco pesado de se segurar. Claro, tudo isso é o preço que se paga pela resistência e pela bateria.
Usando
Após ligar pela primeira vez o Moto X Force, você encontra o Android praticamente puro, característico dos Motorola. O aplicativo Moto é uma das poucas alterações feitas pela empresa, e reúne o Tela (que exibe notificações num pequeno círculo, após ligar a tela automaticamente), o Ações (que permite ativar a câmera com dois giros rápidos e a lanterna agitando o aparelho), o Assist (configurações específicas para contextos como eventos na agenda, locais e horários) e, por fim, o Voz (como um Moto X, ele pode ser ativado e responder a comandos de voz mesmo com a tela bloqueada).
O desempenho do Moto X Force é comparável ao de outros Androids de topo de linha: não trava, apps abrem rapidamente, é fácil alternar entre tarefas, praticamente sem demora. A única queixa é que ele esquenta demais ao ser usado por muito tempo.
Uma das primeiras coisas a se observar no Moto X Force é a tela. A tecnologia AMOLED adotada aqui garante pretos bem escuros e bom contraste. A saturação, normalmente exagerada nestas telas, é bem equilibrada e você não sente tanto a diferença ao migrar de um aparelho com LCD para o Moto X Force. A resolução de 2K, para quem está acostumado ainda com displays HD, faz certa diferença: você nota que algumas fontes em certos apps estão levemente diferentes, com contornos mais claros. A diferença para telas Full HD, no entanto, não é tão grande assim.
Quer dizer, não é tão grande assim para os olhos. Para a bateria, todos esses pixels fazem uma diferença considerável: ela descarrega muito lentamente em modo de repouso, e despenca em uso normal. A tela é sempre apontada como o maior consumidor de bateria na página de uso de energia do Android, com mais que o dobro do segundo colocado. Eu gostaria de ver este smartphone com uma tela “apenas” Full HD, mas a decisão da Motorola aqui parece ter sido colocá-lo como topo de linha em todos os quesitos.
Falemos mais da bateria: ela é um dos destaques do Moto X Force. 3.760 mAh não é pouca coisa, porém é menos que o Moto Maxx, que tem 3.900 mAh. Eu fiquei satisfeito com a duração, apesar de não ter me impressionado. Jornalistas de tecnologia usam mais o smartphone do que o resto das pessoas; no meu caso, é praticamente impossível conseguir os dois dias de bateria prometidos pela Motorola. Para uso comum, a duração é boa.
Dois dias foram exemplares nesse sentido: em um deles, usei o Moto X Force para uma ligação de vídeo de meia hora no Hangouts via Wi-Fi e, em outro, usei o Waze por meia hora e a câmera para tirar várias fotos. É o tipo de coisa que acaba com a bateria, mas nos dois casos, eu não precisei recarregar o aparelho até o fim do dia — pelo contrário, ele durou ligado até a meia-noite.
E, mesmo com a bateria no fim, você ainda tem como conseguir mais duração, graças ao carregador Turbo Power da Motorola, que acompanha o aparelho. Se a bateria não chega a ser impressionante, o carregador me surpreendeu. Em pouco mais de uma hora, você chega aos 100% de bateria. Qualquer intervalo mínimo na tomada já garantia uma subida considerável na porcentagem de energia.
Meu último dia com o Moto X Force foi até curioso: era quase meia-noite quando liguei o aparelho na tomada com cerca de 10% de bateria. A uma da madrugada, antes de ir dormir, ele já estava com 100%. Desconectei, usei um pouco, a bateria caiu para 96%, fui dormir sem deixá-lo na tomada e, cinco horas depois, ainda estava com 93%, mesmo conectado a Wi-Fi e com a sincronização ativada.
Resistência
A bateria é um dos destaques do Moto X Force, mas não é o principal. A resistência é o ponto que a Motorola está vendendo junto com o aparelho. A empresa chega a oferecer quatro anos de garantia. É muita coisa, mas e aí, ele não quebra mesmo?
Não, não quebra. Eu derrubei o Moto X Force duas vezes intencionalmente (fiquei com medo, claro) e mais uma meia dúzia acidentalmente – e o aparelho sobreviveu praticamente intacto.
O Gizmodo americano fez, inclusive, um vídeo derrubando o aparelho 70 vezes:
Mas, veja bem, “praticamente intacto” não é “intacto”: ficaram algumas marcas na borda de alumínio do aparelho, coisa mínima. No entanto, quem sofre mesmo são as lentes da câmera.
Está vendo os pontos pretos na imagem acima? São defeitos da lente da câmera frontal após alguns tombos. Eles eram mínimos quando o Moto X Force chegou aqui na redação, já com “cicatrizes” de outros testes, mas cresceram depois de mais algumas quedas. E o aparelho que testamos foi o segundo emprestado pela Motorola — o primeiro tinha mais marcas de uso e esses pontos pretos apareciam também nas fotos tiradas com a câmera frontal, até que pedimos para a empresa trocá-lo por um em melhores condições.
Claro, o Moto X Force é muito mais resistente que qualquer celular por aí, a não ser que você ainda queira usar um Nokia 2280. Qualquer outro smartphone não teria a mesma sorte com tantas quedas — pelo menos uma trincadinha na tela iria acontecer, na melhor das hipóteses, enquanto o Moto X Force continua sendo perfeitamente usável. Mas não vá bancar o esperto e sair derrubando o seu por aí de propósito para impressionar os amigos, porque a garantia de quatro anos da Motorola não cobre danos ou abuso intencionais.
Câmera
Já que estamos falando de câmeras, vamos a elas. Como já é padrão na linha Motorola, você pode ativar a câmera rapidamente girando o smartphone duas vezes, como se fosse uma maçaneta. O mesmo movimento pode ser usado para alternar entre a câmera frontal e a traseira. O software é bem simples e fácil de ser usado: basta um toque na tela para capturar a imagem.
A câmera traseira tem 21 megapixels e foco automático por detecção de fase, o que garante mais rapidez na hora de focar. As imagens são boas, com bom nível de detalhe, mas ao aproximar, você percebe que o foco não foi tão preciso. Em baixa iluminação, a câmera vai bem, e o flash duplo garante cores mais próximas da realidade e evita que o branco estoure.
Você pode ver as imagens em alta resolução neste álbum.
Gostamos
A bateria de duração longa e o carregador Turbo Power, sem dúvidas, foram as coisas que mais gostei no Moto X Force: de nada adiantaria ser um smartphone excelente se a bateria acabasse no meio do caminho e deixasse você na mão. A bateria e o carregador garantem que você vai ter seu Moto X Force sempre à disposição.
Não gostamos
Eu poderia falar dos danos causados às câmeras pelos tombos, mas seria injusto, já que são efeitos mínimos quando comparados ao que aconteceria com outros smartphones. Além disso, se a Motorola se empenhou tanto em proteger a tela, possivelmente esses danos nas câmeras são mesmo inevitáveis.
Então, vamos ao resto. O Moto X Force é meio desajeitado e pesado. Não é um smartphone agradável de se usar por muito tempo por causa desses dois fatores. O superaquecimento também não é nada legal, e eu também não vejo necessidade de uma tela de 2K — trocaria tranquilamente por uma Full HD em troca de ainda mais tempo de bateria.
Vale a pena?
R$ 3.149. Três mil, cento e quarenta e nove reais. Quatro salários mínimos. É difícil, muito difícil, avaliar qualquer coisa na sombra deste valor. Eu não pagaria isso em um celular.
Claro, o Moto X Force não está sozinho: Samsung, Sony e Apple também têm produtos acima de R$ 3.000. A Sony foi além e colocou seu Xperia Z5 acima dos R$ 4.000. O iPhone 6s mais barato custa R$ 3.999. Os smartphones de topo de linha subiram muito de preço este ano, e parece que novas categorias surgiram para preencher a faixa entre eles e os intermediários. Basta olhar as três versões do Moto X e como elas estão em faixas de preço sugerido muito bem definidas, sem sobreposições: R$ 1.499, R$ 2.599 e R$ 3.149.
O Moto X Force é, possivelmente, o smartphone que oferece mais em troca do seu valor super elevado. Você paga caro (e bote caro nisso) para levar um aparelho que não corre o risco de quebrar na primeira vez em que você se atrapalhar e derrubar o aparelho. Na pior das hipóteses, você tem quatro anos de garantia contra avarias na tela, o que é ótimo.
Dá para pensar no Moto X Force como um investimento a longo prazo, então? Em partes. Você pode ficar tranquilo com relação à tela por pelo menos quatro anos, mas corre o risco de, depois de metade desse tempo, estar com um smartphone defasado — e até mesmo sem atualizações, já que a Motorola não incluiu o primeiro Moto X, de 2013, em sua lista de aparelhos a serem atualizados para o Android 6.0 Marshmallow.
No fim das contas, mesmo oferecendo mais que o resto, não dá para dizer que vale a pena qualquer smartphone nessa faixa de preço, por mais que ofereça mais que seus concorrentes. É muito dinheiro. Eu prefiro comprar um aparelho mais barato, tomar cuidado e contar com a sorte.