Round 6: entenda as principais críticas sociais feitas pela série da Netflix
Round 6 se tornou o maior sucesso da história da Netflix. Além do visual marcante, dos personagens cativantes e das brincadeiras mortais, a produção carrega uma crítica muito forte sobre a sociedade moderna ao longo de seus nove episódios.
Confira as principais mensagens que a série apresenta. Um aviso: este texto contém spoilers: Continue por sua conta em risco.
Capitalismo
A crítica ao capital é um dos pontos mais gritantes de Squid Game (nome como a série é conhecida lá fora).
Na trama, 456 pessoas endividadas participam de uma série de jogos para conquistar um enorme prêmio — equivalente à 46,5 bilhões de wons (cerca de R$ 214 milhões). Mas cada desafio acontece à custa de suas vidas.
Os participantes usam uniformes com números e não podem revelar seus nomes, esvaziando o sentimento de humanidade e o passado de cada indivíduo.
Os personagens carregam trajetórias diferentes e arquétipos marcantes — é uma forma de o público conseguir diferenciá-los (como o filme espanhol O Poço também faz).
“Eu queria escrever uma história que fosse uma alegoria ou fábula sobre a sociedade capitalista moderna, algo que retratasse uma competição extrema da vida. Mas eu queria usar o tipo de personagem que todos conhecemos na vida real”, disse Hwang Dong-hyuk, diretor da série, em entrevista.
Se dentro do jogo os participantes chegam a trapacear e sabotar competidores para chegar à reta final, entre os funcionários (que vestem o macacão rosa), há a corrupção com um pequeno grupo que desvia cadáveres para vender os órgãos ao mercado clandestino.
Desigualdade
A Coreia do Sul atravessa um momento de intensificação da desigualdade social. Produções têm mostrado um lado “menos apresentável” do país asiático, ao focar em como o enorme buraco entre os ricos e pobres afeta a sociedade. É a mesma premissa de Parasita, longa coreano que ganhou o Oscar de 2020 como Melhor Filme.
O segundo episódio foca em mostrar os participantes sendo liberados do jogo após votarem para sair da competição. Porém, ao retornarem à vida em sociedade, precisam lidar com conflitos pessoais (a maioria deles relacionados a aspectos financeiros) — o que os faz relembrar o motivo de terem aceitado arriscar suas vidas por grana.
No país, o endividamento de famílias aumentou de forma acentuada nos últimos anos, chegando a superar 100% de seu Produto Interno Bruto (PIB) — informação que é citada, inclusive, no episódio final.
Na Coreia do Sul, uma parcela considerável dos jovens não conseguem ingressar no mercado de trabalho. Ao mesmo tempo, o custo de vida e dos imóveis são altos. Muitos descartam a ideia de criar filhos devido aos enormes gastos, gerando também queda de natalidade no país.
Além da desigualdade financeira, Squid Game expõe os preconceitos ainda muito presentes na sociedade. Durante as partidas, mulheres e idosos são excluídos de atividades em equipe por serem considerados “fracos”, e o paquistanês Abdul Ali sofre com certa rejeição por parte dos concorrentes por ser imigrante.
Vigilância
Ainda que de forma um pouco mais sutil, a série apresenta diversos momentos bastante à lá Black Mirror.
Se você reparar, todos os personagens são vigiados constantemente, seja durante os jogos com câmeras de segurança até antes de terem aceitado participar, quando ainda estavam sendo observados como possíveis jogadores.
Essa temática permanece forte nos dias atuais, com vigilância e vazamentos de dados e informações sigilosas — o que remete ao clássico 1984, de George Orwell.
Religião
Em algumas cenas, aparece um participante cristão fervoroso que, sempre que possível, expõe seus pensamentos e ideologias justificando atitudes desumanas e apontando os pecados dos competidores.
A ideia do diretor é mostrar como fiéis podem agir de forma “profana” diante de situações extremas para sobreviver. Ou seja, pessoas ditas “de bem” também pode agir de forma cruel — justificando suas ações pelo nome de Deus.
Humanidade
A violência explícita de Round 6 não serve apenas para chocar quem assiste. O que mais choca é como ela se torna um entretenimento na mãos das pessoas ricas — os VIPS, que investem milhões no jogo como forma de preencher um desejo por morte que nem a conta bancária consegue satisfazer.
No último episódio, Oh Il-Nam e Seong Gi-Hun apostam se até a meia-noite alguém iria ajudar um bêbado caído na rua, a que estão observando na janela. Essa aposta sintetiza uma temática chave da série: ainda temos humanidade ou o individualismo nos dominou?
Round 6 carrega um emaranhado de reflexões sobre postura éticas e morais sobre como o indivíduo pode agir perante as situações mais extremas. E, principalmente, se somos capazes de transformar o meio em que vivemos ou se somos apenas mais um peão no tabuleiro desgastado do capitalismo.