Professor universitário lança primeiro álbum de hip-hop revisado por pares

Você pode ouvir o álbum gratuitamente pelo serviço de streaming de música Spotify e a plataforma Fulcrum.
O doutorando da Clemson University, AD Carson, responde a perguntas durante a defesa de sua dissertação em 24 de fevereiro de 2017. Imagem: NPR/ Ken Scar/Cortesia de AD Carson.

Um professor de Hip-Hop e doutor em retórica, comunicação e design de informação pela Clemson University chamado A.D. Carson, viralizou na internet ao lançar o seu álbum ” i used to love to dream” pela Michigan Publishing, uma editora acadêmica. Tido como a primeira publicação do gênero a ser revisada por pares, a “mixtape/ensaio” ainda acompanha um encarte com explicações sobre cada uma de suas oito músicas inspiradas na vida e formação acadêmica do artista.

Sara Jo Cohen, editora sênior de aquisições da University of Michigan Press, e que trabalhou com A.D. Carson neste álbum, afirma que este trabalho vai trazer mudanças significativas para a maneira com que os estudos das artes cênicas e da música serão compartilhados, especialmente diante da bancada. “Acho que, como editores, muitas vezes pensamos em nossas questões de revisão por pares como definidas, mas este exercício de trabalhar com Carson para repensar nossas questões foi realmente instrutivo para mim, e acho que nossa colaboração nessas questões foi muito no espírito de fazer música”.

Já Loren Kajikawa, outro colaborador de Carson e editor da série interdisciplinar Tracking Pop na University of Michigan Press, diz que “os revisores notaram que este é um projeto com potencial para abrir espaço na publicação acadêmica para novas formas de arte e novas formas de bolsa de estudos”. O feito de Carson é algo a ser visto com mais ênfase, uma vez que vai proporcionar a mais acadêmicos negros a possibilidade de explorar de forma mais desafiadora e menos tradicional as suas pesquisas.

Toda esta história se iniciou quando Carson produziu um álbum de rap com mais de 30 músicas em formato de dissertação, na qual defendeu em 24 de fevereiro de 2017 do mesmo ano para o comitê responsável. Intitulado na época como “Owning My Masters: The Rhetorics of Rhymes and Revolutions”, a obra explora temas que fazem parte do ativismo do artista, como identidade, justiça, economia, cidadania e linguagem.

Com dezenas de visualizações em seu canal do Youtube e uma repercussão impressionante no Facebook, Carson foi considerado a primeira pessoa na história da Clemson University a não entregar uma dissertação por escrito, como é feito tradicionalmente. “Algumas pessoas me perguntam: ‘Você está fazendo isso apenas para ser provocativo? Isso é um truque?’. Minha resposta é ‘absolutamente não’. Esta é a minha maneira de estar no mundo”, disse Carson em um artigo publicado no site da universidade na época da entrega da dissertação.

Uma das suas principais inspirações para prosseguir com o projeto veio do seu mentor, o professor Chenjerai Kumanyika, um ex-integrante do grupo de Hip-Hop “The Spooks”, que tinha em sua coleção de conquistas vários discos de ouro e platina do final dos anos 1990 e início dos anos 2000, épocas que garantiram a ascensão de grandes nomes deste cenário, como Shaggy, Kanye West, Snoop Dogg e Ja Rule.

Assine a newsletter do Giz Brasil

O disco foi gravado em um pequeno estúdio improvisado por Carson, montado em seu apartamento que fica próximo do campus que frequentava. Com o uso de softwares que foram oferecidos pela própria universidade, contou com a ajuda de mais dois amigos de infância para a produção do álbum. Dentre as referências que podem ser notadas em sua composição, então os samples de algumas músicas de Aretha Franklin e da trilha sonora do filme Django Livre, de Quentin Tarantino, bem como inspirações de artistas mais contemporâneos como Jay Z e Common.

Quebrando recordes a cada realização, Carson foi o primeiro de sua família a ser formar em uma universidade. Para ele, os aprendizados vindos não somente de sua vida pessoal, mas também da vivência acadêmica estarão refletidos nas letras de sua música. E se vale a pena lecionar sobre Hip-Hop na universidade? Para ele a resposta é ‘com certeza’, de acordo com sua entrevista ao The Conversation. “A razão pela qual lemos e nos envolvemos com a literatura com a qual nos envolvemos é, esperançosamente, por empatia — para que tenhamos caminhos para entrar em mundos que não entendemos completamente”.

fique por dentro
das novidades giz Inscreva-se agora para receber em primeira mão todas as notícias sobre tecnologia, ciência e cultura, reviews e comparativos exclusivos de produtos, além de descontos imperdíveis em ofertas exclusivas