Falei: ok, vou seguir o caminho da astronáutica. Aí basicamente todos os passos que eu dei até hoje são em direção a esse sonho.
“Brasileiras no espaço”: aspirante a astronauta, Juliana Leonet inspira Geração de Marte
“Eu queria transformar as minhas perguntas sobre o mundo em ciência de verdade”, conta Juliana Leonet nos primeiros minutos de conversa com o Giz Brasil nesta série de reportagens “Brasileiras no Espaço”. Segundo ela, foi esse o pontapé inicial para seu primeiro projeto de pesquisa, o “Como Fazer Ciência”, desenvolvido junto à UFPR (Universidade Federal do Paraná) quando ainda estava no Ensino Médio.
Desde então, a curiosidade da jovem de 23 anos nascida em Pontal do Sul já levou ao Estados Unidos, Espanha e ambientes que ainda não são, mas se parecem muito com o espaço.
Aspirante a astronauta, Juliana Leonet é uma das brasileiras que têm pavimentado o caminho para outros jovens que desejam seguir na área das ciências espaciais e da astronáutica. Sua trajetória fez com concorresse ao Prêmio Mulheres no Espaço 2024, uma competição internacional em que mais de 150 nomes indicados representando 35 países.
Embora não tenha vencido em sua categoria, ela competiu como Liderança Estudantil por um motivo. “Eu gosto de estar à frente de um movimento de impacto social, porque eu vi o que a ciência fez na minha vida”, explica.
Pelas lentes das crianças
Seu primeiro contato com a produção científica de uma universidade foi no projeto da UFPR, que buscou alunos de Ensino Médio para uma iniciação na área acadêmica. Durante os três anos que esteve no colegial, Juliana dividiu seus dias entre os estudos da grade curricular comum e o tempo em que passava investigando dúvidas de crianças das escolas de Pontal do Sul.
“A gente perguntava para as crianças sobre qualquer dúvida que elas tinham do mundo. E vinham dúvidas incríveis e muito genuínas. Por exemplo: por que os pássaros voam? Por que tem ondas na praia? O que são os grãos de areia? Eram uma profundidade enorme”, conta a jovem.
Ali, em contato com questões majoritariamente sobre a natureza das coisas, fez seus primeiros artigos científicos. E descobriu também o gosto pela participação em projetos com algum tipo de impacto social.
Um sonho de astronauta
Mas é no espaço que estão a maioria das respostas que Juliana quer sobre a vida. Enquanto tentava se reconectar com essa área, a jovem encontrou um projeto da NASA chamado Colaboração Internacional de Busca Astronômica (IASC, sigla em inglês para The International Astronomical Search Collaboration).
Nele, a agência espacial dos EUA disponibiliza imagens do espaço e pessoas – ou cidadãos cientistas, como a NASA chama – analisam o conteúdo. A ideia é encontrar novas galáxias, asteroides e meteoros, entre outros.
Então, Juliana reuniu mais entusiastas do espaço e criou seu primeiro projeto próprio, o Calisto. Juntos, eles identificaram mais de 200 objetos celestes. De acordo com a jovem, o grupo continua atuando até hoje.
Um ano no Kennedy Space Center
A partir dessa iniciativa, Juliana conheceu um engenheiro da NASA, que ofereceu a oportunidade de conhecer o KSC (Kennedy Space Center), na Flórida, Estados Unidos — e ela foi. “Fiquei um ano lá [nos EUA] e durante esse período eu tive livre acesso ao KSC. Tive conversa com diversas astronautas e comecei a desenvolver o interesse pela área da astronáutica”, explica.
Isso inclui um curso de aviação, já que um astronauta precisa saber pilotar. Agora, Juliana está finalizando suas horas de voo. Além disso, também viajou para a Espanha e vivenciou uma simulação de missão espacial na renomada Astroland, agência espacial espanhola.
Durante 10 dias, a jovem esteve em uma missão análoga na estrutura de estação espacial Ares, construída em uma das cavernas de Cantabria, ao Norte da Espanha. Esse tipo de missão consiste em uma simulação da experiência do trabalho espacial.
Ela acontece em lugares que oferecem condições extremas, com objetivo de mostrar aos interessados como funciona a rotina de uma exploração do universo.
Assim, Juliana passou o período totalmente isolada do contato humano, apenas com comunicação com seus pares na simulação. Ela exerceu funções como as de uma missão espacial da vida real, desde a limpeza até a pesquisa.
A geradora da Geração de Marte
“Eu voltei de lá como uma visão completamente diferente. Falei: eu preciso fundar alguma coisa nesse estilo aqui no Brasil”, conta.
Quando uma criança fala ‘eu quero ser astronauta um dia’, ela cresce e vê que aquilo é basicamente impossível. E aí acaba desistindo. Então chegou muita gente no meu Instagram me perguntando ‘Juliana, como você conseguiu fazer isso? Como é que eu começo? Como é que eu me desenvolvo nessa área? Como eu desenvolvo um projeto? Como é que faz paper?’
Juliana criou uma comunidade e entre adolescentes, jovens e adultos, oferece suas experiências e conhecimentos da área da pesquisa científica à astronáutica. Segundo ela, a intenção é mostrar que o que faz não é nada de extraordinário, apenas um trabalho de persistência e engajamento na área da astronáutica.
O nome do grupo veio fácil para a jovem. “Eu vou chamar essa galera de Geração de Marte, porque a gente não só é uma comunidade, mas a gente vai gerar para fazer com que Marte seja cada vez mais possível”, conta.
Antes mesmo de ter certeza da carreira como astronauta e da experiência na Espanha, Juliana já havia participado de sua primeira missão análoga no Brasil. Ela aconteceu no Habitat Marte, no Rio Grande do Norte.
Foi ali que conheceu Luisa Santos, que veio a se tornar sua parceira na coordenação do Geração de Marte.
Juntas, elas coordenam um grupo de pessoas formado 100% por brasileiros que, assim como as duas, se interessam pela pesquisa científica sobre o universo e pelas experiências espaciais. E, assim, tentam guiar o caminho daqueles que compartilham do mesmo sonho espacial.
– Confira também as outras duas personagens da série “Brasileiras no Espaço”, do Giz Brasil: