De onde veio a melancia? Só agora pesquisadores parecem saber
As melancias são nativas da África, mas exatamente quando, onde e como começou a ser plantada e transformada na fruta que conhecemos hoje, ainda é um mistério para os botânicos.
Contudo, pesquisadores identificaram as prováveis origens do Citrinus lanatus vulgaris, nome científico da melancia, de acordo com um novo estudo.
A pesquisa da equipe, publicada na Academia Nacional de Ciências (PNAS, sigla em inglês), dá continuidade a anos de trabalho na biogeografia do gênero do melão Citrillus. Como explicou a autora principal Susanne Renner, botânica da Universidade de Munique, “todos pensavam que havia apenas quatro espécies selvagens e que a melancia doce que comemos hoje vinha da África do Sul”. Entretanto, o novo trabalho identifica um melão sudanês como o progenitor da icônica fruta com listras verdes.
Em 2015, um dos alunos de Renner, Guillaume Chomicki, descobriu, por meio do sequenciamento de DNA de diferentes espécimes em toda a África, que o possível ancestral da melancia no sul era apenas um parente distante. “A partir daí, uma coisa levou à outra”, disse Renner, e os pesquisadores chegaram ao melão Cordofão como a origem genética mais provável para a melancia moderna.
Rastrear a ancestralidade da melancia até a África do Sul foi o resultado de uma série de erros, disse Chomicki, agora botânico da Universidade de Sheffield, no Reino Unido.
Cerca de 150 anos depois que um discípulo do taxonomista Carl Linnaeus (botânico responsável por criar o sistema de classificação de animais, plantas e todos os seres vivos) escolheu e batizou uma nova variedade de melancia perto da Cidade do Cabo, batizando-a de Citrullus lanatus. Então, um botânico americano fundiu a descoberta com melancias que compartilham o mesmo nome. “A partir desse momento, a ideia geral era que a melancia vinha da África do Sul”, explicou Chomicki.
Melancias e suas gerações anteriores arcaicas não são o tipo de coisa que tende a fossilizar, o que dificultou ainda mais as verdadeiras origens da fruta. As sementes às vezes se fossilizam, o que pode ser útil para sondar o DNA antigo, mas o DNA mais antigo no artigo vem de folhas de melancia com 270 anos que foram preservadas em um herbário. A equipe criou amostras de todas as espécies de melancia e as cultivou até a maturidade em estufas em Munique, Alemanha e Ithaca, Nova York.
Em seguida, sequenciou geneticamente essas amostras de melancia e as comparou com o DNA extraído de uma fruta silvestre no Sudão, o melão Cordofão. Eles descobriram cerca de 16 mil variantes estruturais genéticas entre as duas plantas e mapearam essas diferenças para características específicas de cada fruta. Eles descobriram que a melancia provavelmente se tornou mais doce como um produto de manipulação, embora possa ter perdido seu amargor antes da agricultura humana, já que a fruta do Cordofão também não é amarga.
A equipe apontou o Cordofão como candidato graças a alguns criadores de plantas da época da Guerra Fria que notaram a possibilidade de que a planta do território fosse uma progenitora da melancia, o que exigia uma tradução do russo das instruções desses botânicos.
O melão do Cordofão é menor do que as melancias cultivadas e notavelmente carece das listras e do interior vermelho vivo de seu primo famoso. Baseando-se na série do Cordofão no nordeste da África, é plausível da melancia que o desenvolvimento tenha ocorrido na mesma região.
“Sabemos que melancias grandes e compridas eram comidas cruas 4.360 anos antes, presentes no Egito, graças à iconografia antiga”, disse Chomicki, “mas os desenhos são de frutas inteiras e, portanto, não podemos saber se já eram vermelhos”.
A equipe, contudo, também considera a hipótese de que a melancia foi plantada na África Ocidental e, em seguida, trazida ao leste.
Sem evidências materiais, os pesquisadores confiaram em uma combinação de pesquisa genética e contexto histórico. As amostras de melão que a equipe usou eram de Darfur, que já foi Núbia (região situada no vale do rio Nilo entre o Egito e o Sudão). Renner diz que é possível que a safra tenha sido domesticada na Núbia e depois atravessado o rio Nilo por meio do comércio.
Mas a distância entre o melão do Cordofão e a melancia moderna também é uma caixa preta. A botânica aponta que é provável que os melões tenham mudado independentemente da agricultura humana, com base em inúmeras mudanças no nível genético entre 4 mil e 6 mil anos atrás.
Ainda hoje, há evidências dos estágios intermediários do Cordofão à melancia. “Nos anos 1800, era comum encontrar melancias de polpa branca nos Estados Unidos, mas devido ao desenvolvimento da agricultura corporativa e da demanda pública, elas quase foram extintas”, explicou Renner. Algumas daquelas melancias tradicionais ainda estão por aí, embora você não as encontre no supermercado comum.
Os botânicos continuarão com as pesquisas uma vez que a equipe consiga inspecionar o DNA das sementes de melões antigos com os quais está trabalhando, eles podem ser capazes de descrever quais etapas mais ocorreram para uma fruta se transformar em outra. Os pesquisadores também descobriram que a melancia congelada perdeu vários genes associados à resistência a doenças que o melão Cordofão mantém. Talvez a fruta mais velha ainda tenha muito a revelar.