Os últimos dez anos forma de profunda mudança no uso da tecnologia no Brasil. Saímos dos features phones para os smartphones e começamos a carregar com a gente itens tecnológicos para resolver problemas que nem imaginaríamos em ter, como um carregador portátil de bateria ou suporte para smartphone para facilitar a pegada dele, já que os aparelhos cresceram muito com o tempo.
Para lembrar um pouco dessas transformações, reunimos os jornalistas do Gizmodo Brasil para falar dos dispositivos e das inovações mais relevantes que passaram a se tornar de uso comum.
iPhone 4
Em 2010, o lançamento do iPhone 4 trouxe duas grandes novidades para o mundo dos smartphones: um acabamento em metal, o que conferia ao aparelho um ar de premium, e a tela Retina, que basicamente trouxe muito mais concentração de pixels para um display.
Curiosamente, o telefone também trouxe um problema de antena. Dependendo de como a pessoa o segurava, interrompia ou diminuía a comunicação do telefone com a operadora. À época, Steve Jobs, então CEO da Apple, chegou a dizer que o problema era como as pessoas o seguravam.
Fora isso, teve toda a questão envolvendo o Gizmodo US, que teve acesso a um aparelho perdido no bar e publicou um review dele antes do lançamento do dispositivo.
Confusões à parte, o iPhone 4 inovou pelo design e iniciou a guerra por telas com cada vez mais pixels e acabamentos mais elaborados. — Guilherme Tagiaroli
Galaxy Note
Em 2011, tive a oportunidade de ver o primeiro Galaxy Note durante a IFA, feira de tecnologia que ocorre em Berlim (Alemanha). O sentimento entre parte dos colegas do jornalistas era de que a tela de 5,3 polegadas e a canetinha Stylus eram um exagero e que a Samsung tinha enlouquecido de vez — lembrando que o iPhone 4s na época tinha uma tela de 3,5 polegadas. Passados oito anos, falar de um aparelho com este tamanho de tela é quase uma vergonha, pois é muito pequena.
O fato é que a Samsung apostou nas telas grandes e a marca acabou influenciando todo o mercado, inclusive a própria Apple que, posteriormente, faria modelos “Plus” com displays maiores. — Guilherme Tagiaroli
Nokia Lumia
Como fã dos aparelhos Lumia, devo dizer que fiquei bem triste com o fim que eles tiveram. Muitas pessoas podem não gostar do smartphone da Nokia, mas ele teve seu valor. O lançamento da linha Lumia foi importante para a história tanto da Nokia como da Microsoft, marcando a fusão das empresas.
Os smartphones Lumia eram conhecidos pelo design colorido e preços relativamente acessíveis. O sistema operacional da Microsoft também funcionava muito bem, e a ideia era integrar a experiência no mobile com o desktop. Assim, aplicativos como o Office ofereciam uma ótima experiência e tornavam o aparelho adequado para quem utilizava ele para trabalhar.
A possibilidade de organizar tudo em “tiles” formava uma interface única, em que os usuários poderiam personalizar a tela como um quebra-cabeças ou buscar diretamente o que queriam na segunda tela por meio da lista de apps. A câmera também oferecia uma resolução superior a de alguns concorrentes, com apps próprios dedicados à edição de imagens.
O grande problema era a loja de aplicativos extremamente limitada, o que fez com que muitas pessoas optassem por aparelhos com Android ou iPhones. Ainda assim, os Lumia representaram a tentativa da Microsoft de ingressar no setor mobile e a oportunidade de a Nokia, antes líder no segmento de telefones móveis, acompanhar a onda crescente de smartphones. — Erika Nishida
Powerbanks
Os aparelhos eletrônicos se tornarem um dos bens mais preciosos das pessoas. No entanto, a alegria de poder carregar um telefone e computador por aí logo se transformava em frustração, desespero e até raiva quando a bateria se esgotava. Encontrar tomadas em locais públicos (ou privados, desde que você comprasse um café ou algo do tipo) nem sempre era uma tarefa fácil ou possível.
Por esse motivo, os powerbanks se tornaram um verdadeiro salva-vidas em viagens longas ou para quem costuma utilizar o celular para trabalhar e está sempre fora do escritório. Isso também influenciou, de certa forma, nossa decisão de compra. É claro que ainda buscamos aparelhos que tenham uma bateria com número de miliampere-hora razoável, mas talvez isso já não seja prioridade para algumas pessoas. Os powerbanks já se tornaram um acessório tão essencial para a vida moderna que até mesmo empresas como a Duracell perceberam que já está mais do que na hora de apostar na tecnologia. — Erika Nishida
Moto G
No fim de 2013, a Motorola trouxe o Moto G ao Brasil. A grande onda do aparelho é que ele tinha sido pensado para mercados emergentes mesmo. Era um aparelho com uma tela boa para época (4,5 polegadas) e decente — resolvia bem a vida para quem queria usar WhatsApp, Facebook e Instagram. A câmera não era lá essas coisas, mas era uma aparelho que tinha preço sugerido de R$ 649, enquanto o iPhone 5s da época estava na casa dos R$ 2.800. Enfim, era um telefone bom e barato.
Vendeu bem? Pra caramba. Um ano após o lançamento, as consultorias de mercado diziam que o Moto G foi o aparelho mais vendido do País. Na época, lembro-me que estavam começando os apps de táxi (não Uber e afins, táxi mesmo!) e boa parte dos motoristas teve como primeiro smartphone o Moto G.
Com o tempo, o Moto G não manteve o baixo preço da estreia, mas a linha até hoje é bem procurada pelos consumidores e já está em sua oitava geração. — Guilherme Tagiaroli
TV Conectada + Chromecast
A TV conectada invadiu as casas brasileiras a partir de 2014, quando a Copa do Mundo aconteceu por aqui. Muita gente aproveita o evento esportivo para trocar a TV da sala e, nessa época, estávamos começando a ver a utilidade das Smart TVs e a chegada do 4K (que ainda custava muito caro). A Netflix operava no Brasil desde 2011 e vinha construindo sua base de usuários.
Naquele tempo, nem imaginávamos que em 2018, na Copa da Rússia, já teríamos uma variedade de players nesse mercado de entretenimento, como o Globoplay (lançado em 2015) e o Amazon Prime Video (lançado no final de 2016). E, nos próximos meses, teremos ainda mais opções de streaming (oi, Disney+).
Com essa amplificação de serviços e entretenimento, o Chromecast foi um dispositivo marcante – com preço mais acessível e a promessa de transformar televisores comuns em TVs conectadas, ele desembarcou no Brasil em 2014 custando R$ 199.
Hoje em dia, difícil é encontrar no mercado uma TV que não seja conectada. — Alessandro Feitosa Jr
Maquininhas de cartão de crédito e débito
No fim da década passada, Visanet (que depois mudou o nome para Cielo) e Redecard dominavam o mercado de maquininhas. Isso acontecia em grande parte porque a primeira aceitava exclusivamente cartões com a bandeira Visa, e a segunda, Mastercard.
Foi no ano 2010 que essa exclusividade foi quebrada e as coisas começaram a mudar. Cielo e Redecard passaram a aceitar outras bandeiras, dispensando os lojistas da obrigação de ter uma máquina para cada empresa de cartão. Mas a grande revolução viria mesmo com a chamda guerra das maquininhas dos últimos anos da década.
Novas empresas, como PagSeguro e Stone, começaram a empregar estratégias mais agressivas para conquistar lojistas, como vender máquinas a preços baixos (e não alugá-las, como faziam as líderes do setor), oferecer suporte e cortar taxas.
Deu resultado: o PagSeguro abriu capital na Bolsa de Valores de Nova York e levantou US$ 2,7 bilhões, e a Stone teve o maior crescimento em volume transacionado. Novos players, como SumUp e SafraPay, também entraram na disputa, e até as gigantes Cielo e Rede se mexeram para não ficarem para trás.
Para quem é consumidor, o resultado disso é uma presença generalizada das maquininhas. Hoje, até vendedor ambulante aceita cartão, e só alguns estabelecimentos se recusam a adotá-las, de maneira quase folclórica.
O mercado ainda parece ter potencial de crescimento, já que os pagamentos com cartão representam apenas 38% dos gastos das famílias, o que é compreensível levando em consideração o grande número de desbancarizados do País.
A próxima década, porém, pode aposentar o cartão, com pagamentos por aplicativos e carteiras digitais, como Iti e PicPay. — Giovanni Santa Rosa
Pulseiras inteligentes
No começo, muita gente pode não ter entendido ou não dado importância para as pulseiras e relógios inteligentes. Parecia mais um acessório para exibir por aí ou para ajudar atletas a acompanhar seu desempenho. Hoje em dia, porém, é muito provável que você conheça pelo menos uma pessoa que utiliza um desses wearables.
O número de opções oferecidas por diferentes marcas aumentou muito nos últimos anos, assim como os propósitos dos aparelhos. O foco em saúde certamente ajudou a popularizar as pulseiras inteligentes, sendo que até mesmo pessoas mais velhas e que não ligam muito para tecnologia utilizam para acompanhar sua saúde física e prevenir situações de emergência. Opções mais acessíveis, como o Mi Band, também permitiram que mais pessoas tivessem contato com a tecnologia. — Erika Nishida
Fones de ouvido sem fio
O Bluetooth existe há um bom tempo, mas os fones de ouvido sem fio ganharam um empurrãozinho (bem forçado, é verdade) quando a Apple tirou a saída de fone de ouvido do iPhone 7, um movimento que virou tendência e foi adotado pela maioria das fabricantes.
Junto com a remoção, a marca da maçã lançou seus AirPods, fones de ouvido totalmente sem fio que se tornaram desejo de consumo e, como não podia deixar de ser, símbolo de status. Eles também estiveram no centro de algumas situações um pouco patéticas, como as cordinhas para prendê-los ao pescoço e as montanhas de fones perdidos em estações de metrô nos EUA.
Mas não foi só a Apple que fez fones de ouvido sem fio nesta década. Samsung, Amazon e Microsoft também embarcaram na onda. A Xiaomi faz sucesso com seus AirDots, que custam bem mais barato que os concorrentes, e a Sony voltou a ter destaque com sua linha de áudio cheia de recursos de cancelamento de ruído inteligente. — Giovanni Santa Rosa
Pop Socket
Não sou fã do Pop Socket, mas muita gente que eu conheço não vive sem – e me lembro que fiquei bastante curioso quando comecei a vê-lo nas mãos dos vendedores do metrô de São Paulo.
Esse acessório é aquele círculo de plástico que fica grudado na traseira do celular e ajuda a segurar o aparelho de forma mais confortável – a tendinite agradece. Em tempos de smartphones gigantes, dá para entender o sucesso – não tenho dados, mas a sensação é de que o Pop Socket é muito mais popular entre as mulheres, que geralmente têm mãos menores e sofrem mais para segurar os aparelhos cada vez maiores. — Alessandro Feitosa Jr
Alto-falante inteligente
Os alto-falantes inteligentes estrearam na gringa com o Amazon Echo, lá em 2014. Já deram muito o que falar sobre privacidade, mas parece que vieram para ficar.
Em 2019, deram as caras no Brasil: Amazon e Google já lançaram seus dispositivos oficialmente no País, e se seguirem a tendência de crescimento dos EUA, muitas casas terão uma assistente digital capaz de ouvir tudo o que acontece.
É um dos dispositivos mais importantes dos últimos 10 anos justamente por ser aquele com mais potencial para a próxima década. Vamos ver. — Alessandro Feitosa Jr
Cadeira gamer
Nos anos 2010, o videogame virou coisa séria. Tem jogador profissional, tem liga mundial, tem patrocínio, tem transmissão com centenas de milhares de espectadores. E, claro, uma série de produtos abusando da estética cheia de LEDs e cores futuristas, de gabinetes a mousepads, passando por mouses, teclados e notebooks.
Um deles, porém, é bem inusitado: a cadeira gamer. Ela é uma espécie de filhote da cadeira de escritório tradicional com o banco esportivo automotivo, e promete mais conforto e regulagens para quem vai passar horas jogando e não quer sentir dor nas costas ou sofrer com uma tendinite. — Giovanni Santa Rosa