Ciência

Clima mais quente enfraquece o corpo para combater doenças, diz estudo

Estudo mostra como períodos curtos e intensos de calor tendem a causar inflamação desnecessária do organismo, prejudicando combate a doenças
Imagem: Ketut Subiyanto/ Pexels/ Reprodução

Verão com temperaturas mais altas, invernos em que quase não faz frio e uma sequência de ondas de calor. O Brasil passou por todos esses episódios ao longo do último ano e, de acordo com novo estudo, isso pode prejudicar a saúde da população para além do desconforto de temperatura, o clima quente pode aumentar a inflamação e diminuir a imunidade.

Segundo a pesquisa, a exposição a curto prazo a temperaturas mais elevadas pode aumentar a inflamação e interferir nas funções normais do sistema imunológico. Com isso, as pessoas ficam mais vulneráveis a infecções e com mais dificuldade de combater doenças. 

O estudo foi apresentado nas Sessões Científicas de Epidemiologia e Prevenção – Estilo de Vida e Cardiometabólica da Associação Americana do Coração de 2024, que aconteceu em Chicago.

Clima quente, inflamação e imunidade

De acordo com os pesquisadores, a maioria dos estudos considera apenas a temperatura. Contudo, é preciso contabilizar também fatores como umidade e ventos, além de biomarcadores de inflamação, para assim compreender a resposta de uma pessoa ao calor.

Por isso, eles realizaram testes de sangue em todos os 624 adultos participantes da pesquisa. Como indicadores do clima, eles levaram em consideração a temperatura normal e outros dois tipos de medição.

O primeiro é a temperatura líquida efetiva, que considera a umidade relativa, temperatura do ar e velocidade do vento. Além desse indicador, também contabilizaram o UTCI (na sigla em inglês de Índice Climático Térmico Universal), que leva em consideração a temperatura, umidade, velocidade do vento e níveis de radiação ultravioleta.

Dessa forma, os pesquisadores descobriram que, para cada aumento de 5 graus no UTCI, houve um crescimento nos níveis de quatro marcadores chave de inflamação no sangue. 

Em geral, o aumento dessas células imunológicas indicam a ativação do sistema imune inato. Ou seja, aquele que estimula uma resposta inflamatória rápida e não específica em todo o corpo.

Além disso, os pesquisadores notaram também uma diminuição nos linfócitos B. Em geral, são células do sistema imune que lembram que vírus e germes específicos. Na prática, isso significa que o calor enfraquece a memória imunológica, que protege o organismo daqueles agentes que ele já sabe combater.

Para os pesquisadores, esse é um sinal preocupante, uma vez que esses períodos mais quentes e úmidos já são impulsionadores ambientais da transmissão de doenças infecciosas transmitidas pelo ar.

Dessa forma, eles criam uma dupla armadilha para a saúde das pessoas. Além de facilitar a disseminação das doenças, também deixam o organismo dos indivíduos mais vulneráveis a inflamações.

“Nossos participantes do estudo tiveram apenas uma exposição mínima a altas temperaturas no dia do teste de sangue, no entanto, mesmo uma exposição mínima pode contribuir para alterações nos marcadores imunológicos”, disse Daniel Riggs, autor do estudo.

População em risco

De acordo com os pesquisadores, esse quadro é ainda mais perigoso entre os adultos com mais de 60 anos e aqueles com doença cardiovascular. Esses dois grupos estão particularmente em maior risco problemas do coração, da circulação e também de mortes relacionadas ao calor. 

Isso porque a inflamação pode desempenhar um papel na formação de placas nas artérias. Dessa forma, durante ondas de calor, eles – e todos as pessoas – devem reduzir a exposição às altas temperaturas. 

A orientação é ficar em casa, em ambientes ventilados, se manter hidratado, não fazer esforços físicos e evitar o sol nos horários mais quentes do dia.

Bárbara Giovani

Bárbara Giovani

Jornalista de ciência que também ama música e cinema. Já publicou na Agência Bori e participa do podcast Prato de Ciência.

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