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O Huawei Mate X é mais empolgante do que você pensa

Tivemos a oportunidade de mexer no Mate X, o novo smartphone dobrável da Huawei. De cara, ele impressiona pela beleza, mas durabilidade preocupa.

Sam Rutherford/Gizmodo

Até o momento, qualquer pessoa minimamente interessada em tecnologia já ouviu falar sobre o Mate X — o smartphone dobrável caríssimo da Huawei que, apesar do anúncio ter sido recente, de alguma forma roubou a atenção do Galaxy Fold, da Samsung, lançado há uma semana.

O Mate X conseguiu até transformar alguns céticos em smartphones dobráveis em crentes. Não é o meu caso, pois sempre fui otimista quanto à tecnologia de telas flexíveis. Esses displays não são como os notches (recortes). Eles não são apenas um passo incremental para conseguir telas maiores. Telas flexíveis têm o poder de transformar a forma como as pessoas criam e desenvolvem tudo quanto é tipo de gadget, especialmente vestíveis e smartphones.

No entanto, após passar um tempo com o Mate X, o que mais me surpreendeu é que, apesar de ser uma tecnologia de primeira geração e com muitas coisas a serem melhoradas, o Mate X é mais impressionante ao vivo e a cores do que achei que seria.

A dobradiça do Mate X é acionada por mola, então, quando você aperta o botão, ele abre aproximadamente 45 graus. Crédito: Sam Rutherford/Gizmodo

Antes de irmos fundo na questão do celular, temos que estabelecer que devemos esquecer o quanto ele vai custar. Ele tem preço sugerido de € 2.300 euros (cerca de R$ 9.890 na conversão direta), o que o torna caríssimo, e em nenhuma circunstância ele vale tanto a pena custando 150% a mais que um aparelho premium, como o Mate 20 Pro ou o Galaxy S10, que já são opções caras. Preços altos são comuns em aparelhos com novas tecnologias. Considere quando a Motorola lançou o DynaTac, o primeiro celular, que saiu em 1983 e custava US$ 4.000. Essa tecnologia de displays dobráveis vai ser bem cara a princípio e, caso faça sucesso, vai se tornar mais acessível.

Voltemos ao aparelho. Do momento que eu o peguei, o Mate X parece mais sólido que seu design de tela articulado de tela dobrável sugeria. Grande parte da estabilidade vem do corpo assimétrico do Mate X, que conta com uma barra gigante no lado direito em que ficam grande parte dos componentes do smartphone e uma porta USB-C, embora sirva como um suporte mais substancial do telefone.

Você provavelmente não vai querer usá-lo dobrado deste jeito. Crédito: Sam Rutherford/Gizmodo

Mesmo quando manuseado com apenas uma mão e ao balançá-lo, a tela não não se move, e, embora eu tenha tido que tentar bastante, você pode dobrar a tela na posição oposta da dobradiça, o que é algo que você não vai querer. A Huawei também optou por uma solução antiga para manter o telefone firme quando dobrado no meio: um simples botão abaixo da câmera tripla do Mate X.

É uma adição surpreendente; muitos telefones novos tentam ter aparências mais simplificadas (e alguns, inclusive, não têm nenhum tipo de porta), mas funciona. O clique que você ouve quando fecha a tela do Mate X passa uma impressão reconfortante que assegura que a tela está fechada.

A Huawei também trabalhou no software do Mate X para que, independentemente de você estiver usando a câmera, navegando na web ou checando sua agenda, a transição entre usar metade da tela e a tela toda (e vice-versa) seja bastante suave. Diferentemente do Royole FlexPai, ele não tem falhas ou artefatos gráficos que aparecem ao fazer a mudança entre os modos.

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Enquanto isso, no modo de uso com apenas uma mão, o Mate X não parece tão diferente de um aparelho normal. Graças aos painéis reforçados na parte de trás do display, a tela não fica esmagada como ocorre com telas antigas de Nintendo 3DS, e a forma como a tela curva para o lado quando dobrada quase dá a mesma impressão que você tem de smartphones modernos com displays de vidro arredondados 3D.

No que diz respeito à tela, ela é ótima. As cores são ricas e saturadas, e, para pessoas que gostam de tirar fotos com um tablet ou não têm uma visão boa, usar o app da câmera ou ver fotos com a tela gigante de 8 polegadas do Mate X é sensacional. Para algo que é essencialmente o pioneiro de toda uma nova classe de dispositivos, não parece ter as frustrações de aparelhos de primeira geração com duas telas como o ZTE Axon M.

E a durabilidade?

Dito isso, há ainda algumas importantes questões que o Mate X precisa responder, sobretudo em termos de durabilidade do display. Quando a Samsung mostrou a tela dobrável Infinity Flex em novembro do ano passado, a companhia ressaltou que teve todo o trabalho de criar uma nova camada OLED flexível e o painel que fica atrás dela, um polarizador ultrafino e até novos tipos de adesivos flexíveis que permitiriam que o smartphone dobrável sobrevivesse a milhares de dobras.

A Huawei fez um discurso parecido com o Mate X, mas, diferentemente da Samsung, a chinesa deu menos detalhes sobre como a tela do dispositivo foi feita ou de onde ela vem. Quando questionado, um porta-voz da Huawei disse que a empresa não fala quem são seus fornecedores. Ao todo, há poucas empresas no mundo que fazem telas flexíveis, e, com a certeza de que a Samsung não é responsável pela tela do Mate X, só sobra a LG e a TCL.

No entanto, existe um cenário que sugere que, mesmo sem o envolvimento direto da Samsung, as telas do Mate X e do Galaxy Fold podem ter o mesmo fundamento tecnológico. No fim de 2018, um fornecedor da Samsung foi pego e processado por roubar a tecnologia de tela dobrável e vender para um fabricante chinês, com alguns rumores dizendo que a tal companhia que comprou os modelos foi a BOE, uma fabricante conhecida por produzir componentes para dispositivos da Huawei.

Algumas unidades mostram o vinco no meio da tela, outras, não. Crédito: Sam Rutherford/Gizmodo

Não saber a origem da tecnologia pode ser uma preocupação para quem quiser ter detalhes sobre a durabilidade, e há sinais de que o Mate X pode ter problemas. A Huawei exibiu para o público alguns Mate X, e alguns deles mostravam um vinco suspeito no meio da tela. Isso fez com que alguns questionassem a veracidade das afirmações da Huawei sobre a durabilidade.

No entanto, o enrugamento em si possa não ser um problema de verdade, pois quando visto de frente, ou de ângulos agudos, você não consegue ver o tal vinco. Essa dobra não estava presente no Mate X que eu manuseei, embora isso não seja tão surpreendente, pois algumas unidades foram muito mais manuseadas que outras.

A outra preocupação é que, ao usar plástico em vez de vidro para a camada protetora nos displays flexíveis, eles podem ser mais propensos a danos quando em contato com objetos pontiagudos, como chaves ou moedas — objetos que já há alguns anos não são uma ameaça para as telas de smartphones modernos. Independentemente disso, até dispositivos como o Mate X e o Galaxy Fold estiverem disponíveis, não saberemos o quão resistentes esses smartphones dobráveis são.

Outra preocupação diz respeito ao que a Huawei afirma sobre as capacidades 5G do smartphone, que, supostamente, alcança velocidades de até 4,6 Gbps em uma rede sub-6GHz. Se isso for verdade, isso seria o dobro da velocidade máxima do modem 5G X50, da Qualcomm. Porém, Patrick Moorhed, um analista da indústria de telecom, disse no Twitter que apenas 5G rodando em ondas milimétricas deveriam atingir velocidades tão rápidas.

É assim que se tira selfie com o Mate X, da Huawei. Crédito: Sam Rutherford/Gizmodo

Mesmo com essas questões, o que a Huawei mostrou no MWC com o Mate X é ainda revolucionário. E, mais do que antes, estou convencido de que, diferentemente de TVs 3D e do LaserDisc, dispositivos com telas flexíveis não são só uma moda passageira. Só espero que esses gadgets se tornem acessíveis e que os problemas da tecnologia sejam resolvidos.

O Mate X vai ser lançado em junho, dois meses após a Samsung lançar o Galaxy Fold.

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