Os abusos trabalhistas da Amazon por trás do Prime Day nos EUA
O Prime Day, período de 48 horas com dezenas de ofertas em milhares de produtos, já está entrenós. E entre a venda de consoles, itens de beleza, cuidado com a saúde e eletrônicos, a Amazon vai mantendo sua fama de maior varejista online do mundo. Mas é como dizem: conheça seu comprador. Por isso, você conhece o suficiente da Amazon para fechar negócios com ela?
Pensando nesse sentido, resolvemos compilar um guia destacando as práticas de negócio da empresa e como ela lida com seus funcionários. Além disso, o Gizmodo US aponta uma cartilha contendo a petição de 35 organizações de justiça social, exigindo que órgãos de fiscalização nos Estados Unidos investiguem os abusos da companhia.
A redatora Victoria Song também já havia apontado que as ofertas do Prime Day são, na verdade, uma oportunidade para a Amazon conquistar mais assinantes Prime, uma vez que os preços até então inflacionados para alguns produtos caem drasticamente. Em outros casos, muitos vendedores aumentam os valores dias antes do Prime Day e voltam para os preços originais, para passar a falsa sensação de que eles estão mais baratos — quase como uma “Black Fraude”, em alusão à Black Friday.
Trabalhadores da Amazon contraem Covid-19
Como fonte nacional de itens essenciais em uma pandemia, era natural que mais pessoas usassem os serviços online da Amazon para adquirir novos produtos, ainda mais aquelas que passam 100% do tempo em casa. Só que, nos EUA, muitos funcionários acusam a companhia de não seguir diretrizes de segurança, com alguns deles contraindo Covid-19. Isso melhorou depois que os trabalhadores protestaram.
Aqui vai uma linha do tempo com links (em inglês) do que aconteceu:
- Março de 2020: Legisladores exigem que a Amazon leve a sério a segurança do trabalhador em meio à pandemia de Covid-19;
- Março de 2020: Amazon demite trabalhador que organizou greves por causa de doenças em meio ao surto de coronavírus;
- Abril de 2020: Memorando mostra campanha difamatória da Amazon contra funcionário demitido;
- Maio de 2020: Pelo menos 7 funcionários da Amazon morreram devido à Covid-19. Empresa se recusa a divulgar números oficiais;
- Outubro de 2020: Quase 20 mil funcionários da Amazon contraíram Covid-19 este ano;
- Dezembro de 2020: Justiça da Califórnia quer forçar Amazon a cumprir intimações que investigam questões trabalhistas da Covid-19;
- Fevereiro de 2021: Procurador-geral de Nova York processa Amazon por “desrespeito flagrante” e falta de segurança contra Covid-19.
Amazon contra sindicatos de trabalhadores
Este ano, trabalhadores de depósitos da Amazon se mobilizaram com uma campanha sindical contra a empresa, em um depósito na pequena cidade de Bessemer, Alabama. Depois que o Sindicato do Varejo, Atacado e Loja de Departamento (RWDSU) relatou que a maioria dos trabalhadores assinou cartões de autorização do sindicato, a Amazon espalhou slogans anti-sindicais e sujeitou os trabalhadores a longas sessões de audiência cativa, tentando convencê-los de que um sindicato iria fazer com que percam dinheiro.
Depois que os trabalhadores votaram contra a sindicalização, o presidente da RWDSU, Stuart Appelbaum, afirmou que a Amazon havia ameaçado fechar o armazém. Alguns especialistas trabalhistas disseram ao Gizmodo que não ficaram surpresos quando a votação falhou.
Segue a cronologia dos fatos:
- Abril de 2020: A maior ameaça à Amazon é o bem-estar humano;
- Setembro de 2020: Amazon contrata abertamente funcionários contra direitos sindicais;
- Janeiro de 2021: Funcionários de depósito da Amazon no Alabama votarão para se sindicalizar;
- Fevereiro de 2021: Twitch exibe anúncios para acabar com os sindicatos da Amazon;
- Fevereiro de 2021: Amazon não consegue impedir votação de sindicato no Alabama;
- Março de 2021: Inspirados pelos colegas de trabalho do Alabama, funcionários da Amazon nos EUA começam conversas sindicais;
- Abril de 2021: Amazon não consegue maioria em votação em Bessemer, devido a apelos sindicais para investigação;
- Abril de 2021: E-mails mostram que a Amazon pressionou serviço de entrega a instalar caixa de correio no depósito do Alabama antes da votação do sindicato;
- Abril de 2021: Movimentos sindicais se unem para que resultados da votação da Amazon no Alabama sejam invalidados;
- Abril de 2021: Amazon violou seu manual anti-sindical em Staten Island.
Amazon nega garrafas de xixi, é multada por roubar gorjetas, aumenta horas e expande aparato de vigilância
Pouco depois das festas de fim de ano, a Amazon aplicou um turno noturno de 10 a 11 horas para os trabalhadores, muitos dos quais alegaram não ter escolha a não ser aceitar o plantão ou perder o emprego. A Amazon disse que fornece turnos alternativos em algumas cidades dos EUA, mas muitos trabalhadores disseram que a distância é muito longa ou que não havia empregos disponíveis.
Foi então que veio um novo absurdo: provas de que motoristas contratados pela Amazon fazem xixi em garrafas porque não conseguem parar para descansarem. Jeff Bezos e a Amazon negaram o caso no Twitter. Contudo, a varejista admitiu que os trabalhadores não têm acesso suficiente a paradas para descanso. Isso entra com consonância com os mais de 24 mil casos de acidentes com feridos nos armazéns da Amazon.
Aqui, a linha do tempo:
- Fevereiro de 2021: Mudanças no “megaciclo” de dez horas da Amazon para seus trabalhadores;
- Fevereiro de 2021: Amazon terá que devolver US$ 61,7 milhões que roubou das gorjetas dadas a motoristas;
- Fevereiro de 2021: Amazon anuncia plano para instalar câmeras de vigilância em todos os veículos de entrega;
- Fevereiro de 2021: Centenas de funcionários da Amazon concordam com a criação de um sindicato específico para motoristas;
- Março de 2021: Executivos da Amazon analisam fotos de garrafas com xixi dos funcionários;
- Março de 2021: Amazon é processada por não fornecer refeições e descanso aos funcionários;
- Abril de 2021: Amazon pede desculpas por negar que seus funcionários usem o banheiro;
- Abril de 2021: Como o megaciclo de trabalhadores da Amazon está colocando lenha na fogueira de uma batalha judicial;
- Maio de 2021: Funcionários sobrecarregados da Amazon podem ter tempo de descanso “em armário” para gritar de desespero.
Amazon ofusca pequenas empresas
Além de vender produtos por conta própria, a Amazon oferece a vendedores terceirizados a criação de um marketplace próprio para que eles comercializem os próprios itens. Acontece que até nisso a Amazon teria exercido alguma influência. Para aumentar ainda mais seu império, a companhia também está expandido seus negócios para salões de cabeleireiro e redes de desconto.
- Junho de 2020: Amazon estaria investigando práticas comerciais na Califórnia e em Washington;
- Julho de 2020: Jeff Bezos diz que “não pode garantir” que a Amazon não esteja violando as próprias políticas para prejudicar vendedores;
- Agosto de 2020: Alemanha e Canadá também fecham o cerco contra a Amazon;
- Outubro de 2020: Apple, Facebook, Google e Amazon são os grandes monopólios que você pensava que eram;
- Novembro de 2020: Amazon é alvo de ação antitruste multibilionária na União Europeia;
- Abril de 2021: Amazon teria considerado uma rede de lojas de descontos antes da pandemia;
- Abril de 2021: Amazon estaria pressionando pequenas empresas se elas não entregarem dados dos usuários;
- Abril de 2021: Amazon está abrindo um salão de cabeleireiro;
- Abril de 2021: Amazon é acusada de trabalhar com editoras de livros em esquema de fixação de preços.
A Amazon salva o meio ambiente. Bom, talvez
A Amazon prometeu migrar suas operações totalmente para energia renovável até 2025, e Jeff Bezos diz ter investido US$ 10 bilhões para “salvar a Terra” — o que é menos do que ele ganhou em um único dia durante a pandemia. São promessas grandes e boas, mas defensores e funcionários dizem que as comunidades de baixa renda próximas às rotas da Amazon não estão colhendo os benefícios.
Vamos à cronologia dos fatos:
- Junho de 2020: O Perigo do fundo climático de US$ 2 bilhões da Amazônia;
- Setembro de 2020: Chegou a “Amazonificação” das mudanças climáticas;
- Dezembro de 2020: Poluidores do clima escrevem carta pedindo uma regulamentação leve;
- Dezembro de 2020: Cinco dos principais golpistas do clima de 2020;
- Fevereiro de 2021: A Amazon está criando um império de lixo;
- Abril de 2021: Amazon não muda suas regras para esmagar o ativismo climático;
- Maio de 2021: Trabalhadores da Amazon pedem que a empresa zere sua poluição até 2030.
Jeff Bezos ganhou mais dinheiro do que nunca
Jeff Bezos recuperou seu lugar como o homem mais rico do mundo. De acordo com um estudo da Oxfam, ele poderia pago um bônus de US$ 150 mil a cada um de seus 876 mil funcionários. É grana para um cacete.
Nota de transparência: apesar das críticas aqui feitas aos abusos trabalhistas do Prime Day nos EUA (e que possivelmente se repetem em outros países), o Gizmodo Brasil (e também o Gizmodo US, que fez o texto original) está recomendando boas promoções no Prime Day — com comissão de afiliados. Acreditamos que nosso jornalismo pode tanto agir para informar os consumidores de boas oportunidades, quanto para denunciar abusos que não deveriam ser mais cometidos. E uma coisa não anula a outra.