Os posts que os jornalistas mais curtiram fazer durante a passagem pelo Gizmodo
De 2008 pra cá, o Gizmodo já publicou coisa pra caramba: pouco mais de 40 mil posts, pra dar uma ideia melhor da cifra. Nesse período, tivemos vários redatores, repórteres e editores, que fizeram de tudo um pouco: posts de tecnologia, posts relacionados à ciência ou mesmo investigações/matérias que levaram a ações no mundo real.
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Como ninguém consegue construir um legado sozinho, convidamos alguns ex-Gizmodos para falarem das matérias favoritas que eles publicaram no blog durante o tempo que estiveram por aqui.
(A ordem dos textos segue única e exclusivamente a de envio de textos para mim)
Felipe Ventura
Doação científica recebe multa da Receita Federal
A Receita Federal decidiu taxar e multar uma doação vinda dos EUA para um clube de astronomia: eram óculos de papel para observar o Sol, claramente marcados com “venda proibida”. Isso gerou muita indignação, por um bom motivo, mas a divulgação do caso ajudou a resolvê-lo: uma editora pagou os impostos e tributos após receber um print da notícia pelo WhatsApp. O Clube de Astronomia Louis Cruls, em Campos dos Goytacazes (RJ), segue na atividade e vai receber um evento oficial da NASA pela primeira vez — o hackathon Space Apps em outubro.
O pessoal do clube de astronomia teve um final feliz
Fake news sobre o WhatsApp em 2015
Em 2015, época em que o termo “fake news” ainda não era tão usado, uma notícia falsa se se destacou para mim: um boato dizia que o WhatsApp iria avisar seus contatos caso você desse print da tela. O Snapchat estava ganhando alguma relevância no país — e ele ainda notifica em caso de screenshot — então muita gente acreditou. Muita gente mesmo: o site que inventou essa história saiu do ar temporariamente devido ao número de acessos. Ele queria a audiência que posts sobre o WhatsApp costumam render, e conseguiu. Desde então, Facebook e Google vêm removendo os incentivos financeiros desse tipo de atividade.
Windows Phone/10 Mobile ascensão e queda
Eu acompanhei a (relativa) ascensão do Windows Phone e sua derrocada com o Windows 10 Mobile. O sistema passou mais de um ano em testes, sem data específica de lançamento, o que levou a vários alarmes falsos. Então a Microsoft jogou o balde de água fria: ela quebrou sua promessa e não atualizou diversos aparelhos (incluindo o meu Lumia 520 baratinho). Metade dos Windows Phones no Brasil não receberiam o update. Era o começo do fim, e um sinal claro de que iOS e Android haviam ganhado. Essa queda foi interessante, especialmente pelas reações exageradas dos fãs defensores da plataforma — que, uma hora ou outra, acabaram aceitando a realidade.
Rodrigo Ghedin
O Giz foi um intensivão da faculdade de jornalismo que nunca fiz. (Durante a minha passagem por aqui, iniciei, com o apoio da casa, um curso de Comunicação e Multimeios; não é a mesma coisa, mas acrescentou bastante.) Aprendi algumas rotinas, critérios e manhas da profissão que anos de blog não me ensinaram — e que, de outra forma, suspeito que jamais aprenderia.
O caso Neon Eletro
Uma dessas lições, a da paciência, culminou na minha história favorita no Giz: o caso da Neon Eletro. O Leo Martins, na época editor, me deu essa missão depois de ver uns comerciais da loja no SBT com ofertas de TVs e celulares muito abaixo da média de mercado.
Tudo a preço de banana na Neon Eletro
Havia algo estranho ali. A apuração levou quase um mês e exigiu diferentes abordagens para coletar as peças e montar o quebra-cabeça: muita pesquisa, conversas com fontes e até me passar por cliente da referida loja para entender melhor o esquema. A matéria repercutiu muito e, mais importante que isso, ajudou o Ministério Público de São Paulo a oferecer denúncia contra os sócios da Neon, além de ter poupado outras pessoas de caírem no golpe e ficarem no prejuízo.
Eu trabalhava a distância. Só conheci pessoalmente a galera da firma e a redação física da F451 uns seis meses depois que comecei a trabalhar. Mesmo longe, o Giz tinha uma unidade muito legal, quase palpável, uma “persona” compreendida por quem nos lia e cultivada pelos que faziam o blog — na maior parte do meu tempo aqui, eu, Leo, Pedro Burgos e Felipe Ventura, que também era remoto.
O review do melhor tablet do mundo publicado em 1º de abril
Essa persona era divertida e se permitia uma zoada vez ou outra. A mais memorável foi a do primeiro de abril de 2013. Na época, tablets estavam em alta e o mercado começava a ser inundado por modelos super baratos e péssimos. Descolei um desses com um pessoal da UEM (Universidade Estadual de Maringá). A ideia era fazer um review às avessas, rasgando elogios a um negócio que, com muita boa vontade, no máximo daria um bom peso de papel.
Aí, despirocamos — nunca escrevi tanta groselha em um só texto na vida. Antes de publicá-lo, o Leo ainda acrescentou outras insanidades. A cereja do bolo: uma fotógrafa excepcional do meu curso topou fazer unas fotos super bregas. (Até hoje me causa incredulidade o fato de ela ter topado participar daquilo.) Não sei se o texto envelheceu bem, mas todo o processo, da ideia à reação dos leitores, foi legal demais.
Bak ❤️ Gizmodo
Entre a minha saída e hoje, o Giz trocou o sistema de comentários e, no processo, todos os daquela época sumiram. Ao reler esse post do tablet, notei que só sobrou um comentário nele, de um leitor anônimo, em que ele diz: “Saudades dessa época do Gizmodo”. Saudades.
Daniel Junqueira
O não hands-on do app Rego
O nome do aplicativo é “Rego”. Essa matéria foi divertidíssima de fazer, jornalismo-piada total, mas foi bem legal e teve uma boa recepção. O próprio criador do Rego repercutiu (levando numa boa a brincadeira).
Em tempo, o Rego, um app exclusivo para iPhone, continua ativo e já tem até versão Pro.
O início dos drones civis por aqui
Essa é de quando os drones começavam a ganhar os céus. Gostei demais de fazer essa matéria. Tem até uma foto minha ridícula aí no meio. Nela, basicamente falo de um dos primeiros entusiastas de drones de São Paulo, e de como sua atividade estava crescendo com demandas de filmagens.
Daniel não especificou, mas talvez seja essa a foto ridícula a qual ele se referia. Crédito: Flávio Oota
Renan Lopes
A abertura da 1ª Apple Store em São Paulo
Recém formado, foi uma das primeiras matérias ‘in loco’ que fiz de tudo um pouco. Foi divertido acompanhar os fanáticos, especialmente os primeiros da fila, que acabaram por não comprar nada.
A primeira Apple Store de São Paulo reuniu toda essa galera para a abertura. Pelo menos, rolou um lanchinho e maçãs para quem esteve por lá. Crédito: Renan Lopes
O problema das cápsulas de café
Fazer essa matéria abriu os meus olhos. Eu já não era muito fã de cafés de capsula por causa do sabor. Saber que esses cápsulas eram praticamente impossíveis de reciclar só me deixou com ainda menos vontade de consumi-las e até hoje atormento os meus pais para largar a máquina.
Os anúncios de falsos varejistas no Facebook
Essa quem fez foi o Felipe Ventura, mas foi eu quem fiz a denúncia porque não aguentava mais ser alvo das propagandas forjadíssimas. Alguns golpistas usavam a identidade visual de varejistas conhecidas e impulsionavam posts no Facebook. A ideia era tentar convencer as pessoas com preços de eletrônicos baixíssimos a entrarem em sites falsos e digitarem informações de cartão de crédito.
Um dos exemplos de propagandas falsas veiculados no Facebook. Crédito: Captura de tela
Giovanni Santa Rosa
A primeira fila de lançamento de iPhone a gente nunca esquece
Eu entrei no Gizmodo em outubro de 2012, como estagiário. Estava cursando o segundo ano da faculdade de jornalismo. Logo nos primeiros meses, eu fui escalado (juntamente com o ilustríssimo Daniel Junqueira) para cobrir a famosa fila de lançamento do iPhone 5 no Brasil.
Eram outros tempos, é verdade. Com preços ali na casa de R$ 2.500, eles atraíam um público até considerável — lembro de descer lances e mais lances pelas escadas de emergência do Shopping Eldorado, por onde a fila se estendia. Os lançamentos também eram mais empolgantes, já que essa coisa toda de smartphone era recente e cada atualização tinha grandes mudanças. Hoje, o hábito de fazer fila para comprar celular caiu em desuso. Ainda bem, vamos combinar.
Sabe aqueles dias que você lembra muito bem? Então, esse é um. Lembro de tomar chuva indo para a redação, de conversar com muita gente que estava na fila e ouvir as mais diferentes histórias — de gente jurando que chegou “por acaso” cedo o suficiente para pegar o primeiro lugar na fila a gente que preferia Samsung mas estava lá a pedido do chefe –, de ver VJs da MTV como convidados de honra fazendo uma social na loja da operadora e de sair do shopping de madrugada.
Como são feitas as playlists dos serviços de streaming
Os jeitos de ouvir música mudaram muito desde que o Gizmodo chegou por aqui. Em 2015, o Spotify tinha pouco mais de um ano por aqui, e o Rdio ainda não tinha sido vendido para o Pandora e fechado. Então, fomos atrás desses e de outros serviços para descobrir como eram feitas as playlists de recomendações — spoiler: nem tudo é feito por algoritmos.
Eu gosto muito de música, e poder conversar conversar sobre o assunto foi muito legal. Até deu para fazer uma brincadeirinha com os intertítulos da matéria. Provavelmente, este é meu favorito entre os que escrevi até hoje no Gizmodo.
A história do rio Tietê e dos seus projetos de urbanismo
O Leo Martins me mostrou um post do Gizmodo americano com vários projetos urbanísticos de Nova York que não foram para frente, e me pediu para fazer uma versão brasileira Herbert Richers com coisas parecidas de São Paulo. Eu acabei encontrando um monte de coisa sobre projetos urbanísticos da capital paulista, e quase todos eles tinham como objetivo domar o rio Tietê no começo do século 20. Foram alguns meses de pesquisa em bibliotecas e entrevistas para recuperar algumas dessas histórias, que dariam origem à série “Do outro lado do rio”.
Na série de reportagens, um dos assuntos foi falar dos projetos passados para tentar salvar o Tietê. Foto por Stankuns/Flickr
Dos três posts e uma entrevista que foram publicados, o texto sobre os projetos abandonados é meu favorito. Eu adoro revirar documentos antigos e publicações velhas, então foi delicioso brincar com essas coisas. Ao mesmo tempo, é triste ver que ideias tão boas e atuais — como construir um parque nas margens do rio Tietê para preservar as margens e evitar enchentes — foram simplesmente descartas.
Imagem do topo: Pexels