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O que vimos nascer e o que vimos morrer nestes 10 anos de Gizmodo Brasil

Você provavelmente não se lembra o que estava fazendo no exato dia 1º de setembro de 2008, quando o Gizmodo Brasil foi ao ar pela primeira vez. Mas você deve se lembrar de como era a vida e a relação com a tecnologia naquela época. Grande parte dos serviços, aparelhos e redes que hoje moldam […]

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Você provavelmente não se lembra o que estava fazendo no exato dia 1º de setembro de 2008, quando o Gizmodo Brasil foi ao ar pela primeira vez. Mas você deve se lembrar de como era a vida e a relação com a tecnologia naquela época. Grande parte dos serviços, aparelhos e redes que hoje moldam nosso cotidiano não existiam, e muita coisa que parecia o futuro não funciona mais em 2018.

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Nesses dez anos, vimos muitos nascimentos e muitas mortes. Tecnologias lançadas e tecnologias abandonadas. Produtos que mudaram o mundo e produtos que não acompanharam as mudanças do mundo. Gênios que já não estão mais entre nós. Nos próximos parágrafos, revisitaremos alguns encontros e despedidas da tecnologia, da ciência e da cultura.

O Google não tinha seu navegador nem seu sistema operacional

Navegar na internet em 2008? O Firefox era provavelmente a principal opção, e o Internet Explorer vinha em todos os computadores com Windows. O Chrome foi lançado pouco depois da chegada do Gizmodo ao país. Ele chamava atenção pela velocidade e facilidade de uso. Mesmo não sendo mais o mesmo, ele conquistou o posto de navegador mais usado do mundo e foi além, dando origem ao seu próprio sistema operacional, o Chrome OS.

HTC G1, o primeiro Android. Crédito: Divulgação.

O Android também data da mesma época. Ao contrário do Chrome, que “chegou chegando”, as primeiras versões do sistema operacional móvel do Google não eram nenhuma maravilha. Mas, convenhamos, com o Windows Mobile e com um iOS com uma App Store recém-lançada, essa coisa de smartphone era bem diferente do que conhecemos hoje.

A Microsoft tentou ser uma terceira força nos smartphones (e não conseguiu)

Ah, o Windows Mobile. Ele estava na versão 6.1 quando o Gizmodo chegou aqui no Brasil. Ainda vimos (e nos decepcionamos com) a versão 6.5 do sistema, em 2009. Só em 2010 o Windows Mobile virou Windows Phone, na versão 7, que já era mais próxima dos smartphones modernos. O sistema tinha umas ideias bacanas, que servem de inspiração para a Microsoft até hoje, como as Live Tiles, os blocos coloridos que servem de atalho e notificações para os aplicativos. Eu mesmo, inclusive, fiz vários reviews de Nokia Lumia rodando Windows Phone 8, lançado em 2012.

O Nokia Lumia 720, um dos primeiros aparelhos com Windows Phone 8. Imagem: Leo Martins

O problema é que o sistema sempre estava um passo atrás de Android e iOS. Uma central unificada de notificações, por exemplo, só foi chegar no Windows Phone 8.1. E a oferta de apps sempre deixou a desejar, com praticamente todos os principais aplicativos com um ritmo de atualizações mais lento do que nas duas principais plataformas do mercado de celulares.

E teve toda a novela de atualização para o Windows 10, que seria unificado com a versão do SO para desktop. Foram muitos atrasos até o sistema finalmente chegar. Mas já era tarde demais: a Microsoft desistiu de fazer smartphones e acabou abandonando o projeto, consolidando de vez o duopólio Android-iOS.

Ouvir música pela internet em qualquer lugar era apenas um sonho

Por falar em Apple, você deve se lembrar do iPod. Baixar mp3 e colocar os arquivos em tocadores portáteis ou em celulares (se seu celular tocava música, claro) era a melhor forma ouvir música fora de casa lá em 2008. No seu lar, você provavelmente tinha o Winamp instalado no computador, o tocador de música que chicoteava a bunda da lhama.

Ele foi se tornando irrelevante até ser descontinuado em 2013 e, quando ninguém mais esperava, ganhou uma atualização há alguns dias! Para 2019, ele promete suporte a podcasts e serviços de streaming. Afinal de contas, a nossa relação com a música é muito diferente do que era em 2008.

Sejamos sinceros: ninguém comprava nada. O negócio mesmo era a comunidade Discografias, do saudoso Orkut, que reunia links de álbuns inteiros em serviços de hospedagem online. Alguns deles, como o RapidShare, nem existem mais. O Megaupload, outro hit daquela época, foi fechado — seu fundador, Kim Dotcom, lançou o Mega um ano depois, com foco em armazenamento na nuvem. Já 4shared e Mediafire continuam aí, vivos, mas já sem o mesmo glamour daquela época.

O iPod não morreu — a Apple ainda vende o iPod Touch, sabe-se lá para quem, já que ele faz praticamente o mesmo que qualquer smartphone — mas o jeito que a gente ouve música, quanta diferença. Muito disso passa por um app que nasceu pouco depois do Gizmodo, chamado Spotify. Idealizado por dois suecos, ele chegou ao mercado em outubro de 2008.

Hoje, o Spotify já é uma empresa com capital aberto e listada na bolsa de Nova York. Imagem: Getty.

Não foi o primeiro serviço do tipo, claro — você deve se lembrar de coisas como a Usina do Som, dos tempos da internet discada brasileira, ou mesmo o Grooveshark, que acabou fechado por infringir direitos autorais. Mas a facilidade de uso do Spotify e a evolução da internet móvel ajudaram a consolidá-lo como o principal serviço de streaming musical do mundo, com 83 milhões de assinantes pagos — o dobro do Apple Music, o segundo colocado — e 180 milhões de usuários ativos.

Algumas redes se foram, outras chegaram

O Facebook já existia em 2008, mas pouca gente tinha perfil por lá. O Twitter também engatinhava, com muita gente começando a se aventurar pelos 140 caracteres. Mas o que pegava mesmo por aqui era o Orkut, com suas comunidades, seus scraps, e seus depoimentos, incluindo aqueles que na verdade eram mensagens privadas e começavam com “NÃO ACEITA NÃO ACEITA NÃO ACEITA”. Por que é que ninguém usava a função de mensagens, hein?

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O Orkut foi perdendo popularidade até se tornar um museu virtual, sem as funções de rede social, em 2014. Em 2017, as comunidades que estavam preservadas foram apagadas completamente.

Um dos recursos do Orkut era a tal da crush list, em que você marcava as pessoas que te interessavam e, caso o interesse fosse mútuo, vocês dois eram avisados. Isso lembra alguma coisa?

Sim, o Tinder! É outra rede que vimos nascer. Em 2008, flertar em salas de bate-papo já não era grande coisa, e havia outros sites de relacionamentos, mas foi o Tinder que consagrou uma dinâmica de só poder mandar mensagens em caso de interesse mútuo. No caminho aberto por ele, vieram outros nomes, como o Happn, e a forma de conhecer pessoas e xavecar mudou consideravelmente por causa deles.

Das grandes redes sociais que usamos hoje, a que vimos nascer foi o Instagram. Já parou para pensar que houve um tempo em que colocar filtros em fotos era algo totalmente inovador e descolado?

A primeira versão do Instagram para Android, lançada em 2012.

O Instagram nasceu com essa ideia em outubro de 2010. No começo, o app estava disponível apenas para iOS. Só em abril de 2012 que uma versão para Android foi lançada, e apenas em 2016 a rede ganharia um cliente oficial para Windows Phone.

Hoje, o aplicativo é propriedade do Facebook, e seus fundadores já abandonaram o barco. Ele é uma grande aposta para o futuro da empresa, já que a rede social criada por Mark Zuckerberg parece dar sinais de estagnação.

Morreram, mas passam bem

Tem coisa que não deixou de existir, mas nem de longe é a mesma coisa que era há dez anos.

É o caso da BlackBerry. Em junho de 2008, antes da crise econômica mundial, suas ações atingiam o valor recorde de US$ 144. Mas o crescimento dos iPhones e dos Androids foi impiedoso com a marca.

O BlackBerry Bold 9900, lá de 2011. Imagem: Divulgação.

Em junho de 2011, o número de iPhones nos EUA já superava os de BlackBerries, e em novembro daquele mesmo ano a empresa tinha apenas 11% do market share de vendas de smartphones. A marca, originalmente da Research In Motion (que mais tarde seria rebatizada como BlackBerry Limited), hoje está licenciada à chinesa TCL e estampa smartphones Android, sem o mesmo impacto da década passada.

Caso parecido foi o da Nokia. Em 2008, o Symbian, sistema operacional da marca finlandesa, correspondia a 53% das vendas de smartphones. Só que esse número foi caindoDois anos depois, este número já tinha caído para 32% — no mesmo ano, o Android correspondia a 30% do market share. No ano seguinte, o sistema operacional do robozinho finalmente tomou o primeiro lugarEm junho, a Nokia perdeu para a Apple o posto de maior fabricante de smartphones do mundo.

Lembra da carinha do Symbian? Imagem: Rafe Blandford/Flickr

Em vez de optar pelo Android, como outras fabricantes de celulares, como LG, Samsung e Sony Ericsson fizeram, a Nokia firmou uma parceria com a Microsoft para equipar seus aparelhos com Windows Phone. Isso, porém, não salvou a companhia: em 2013, ela já tinha caído da primeira para a décima posição no ranking de vendas. Naquele mesmo ano, a divisão mobile da empresa seria vendida para a Microsoft, que acabou colocando sua própria marca na linha Lumia — que, como sabemos, foi abandonada pela desenvolvedora do Windows.

A marca Nokia, porém, ainda vive. Em 2016, ela foi licenciada para uma empresa finlandesa chamada HMD Global, que passou a usá-la em smartphones Android — e fazer alguns ótimos aparelhos. Além disso, a companhia teve umas sacadas espertas de marketing ao relançar celulares clássicos e conseguir visibilidade. Aos poucos, a HMD está progredindo — ela já é a nona no ranking de fabricantes de smartphones. Nada, porém, que se compare ao que era a Nokia de dez anos atrás.

Outro nome pesado de dez anos atrás que não é nem sombra do que foi é o Flickr. Sinônimo de compartilhamento de fotos em 2008, ele foi ficando ultrapassado. No começo da década, ele já estava em um túnel e bem longe de ver uma luz em seu final. Hoje, ele é propriedade da SmugMug, que vai deletar um monte de fotos e tentar fazer os usuários assinarem contas pagas para tentar viabilizar o serviço. Vai ser difícil.

A moeda digital também nasceu nesses dez anos

Em novembro de 2008, um artigo chamado Bitcoin: A Peer-to-Peer Electronic Cash System, assinado por um tal de Satoshi Nakamoto, era postado em uma lista de e-mails sobre criptografia. Dois meses depois, em janeiro de 2009, Nakatomo implementou o software responsável por aquela que seria a criptomoeda mais famosa.

Sem banco central, sem órgão regulador, o grande lance por trás do bitcoin é o sistema de mineração, que libera blocos de moedas para quem consegue resolver problemas criptográficos. Ele também conta com um grande livro de registro descentralizado, o chamado blockchain, ideia que vem sendo adaptada para diversas coisas.

De acordo com o histórico do Google, a cotação mais antiga de bitcoins para dólares de que se tem registro é de 17 e julho de 2010: US$ 0,05. De lá para cá, muita coisa mudou: a cotação chegou perto de US$ 20 mil, com uma alta expressiva de 2016 para cá. Muita gente a olhar para a moeda digital como um investimento — já há mais compradores de bitcoin no Brasil do que investidores na B3, por exemplo. Várias casas de câmbio surgiram, e até mesmo bolsas de valores passaram a negociar contratos futuros da moeda. As altas não se sustentaram, e hoje a cotação é mais modesta, rondando os US$ 6 mil.

No lado da mineração, fazendas de máquinas superpoderosas passaram a resolver rapidamente os problemas criptográficos para ganhar bitcoin, em uma tendência que levanta preocupações sobre o impacto ambiental.

Muita gente brilhante deixou saudades

Falamos de muitas mortes no sentido figurado, mas também vimos muita gente talentosa e genial nos deixar. Steve Jobs, Vera Rubin, Paul G. Allen, Neil Armstrong, Ursula K. Le Guin, John Nash, Edgar Mitchell, John Glenn, Stephen Hawking e muitos outros que nem seria possível listar aqui todos. Algumas das mentes que ajudaram a formatar a cultura, a ciência, a tecnologia e a sociedade do mundo em que vivemos.

E não vimos, mas muitos nascimentos que mudarão o mundo nas próximas décadas já aconteceram. Elas e eles ainda estão na escola, dando os primeiros passos de suas jornadas, fazendo suas primeiras contas, montando pecinhas de brinquedos. Quem serão os principais inovadores, os principais cientistas, os principais escritores das próximas décadas? É o que vamos acompanhar nos próximos dez, e mais dez, e mais dez anos de Gizmodo Brasil.

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